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DISCURSO DE POSSE (OCORRIDA NO COLÉGIO DANTE ALIGHIERI EM 15/04/2010)
Acadêmico: Tatiana Belinky
Olha, é isso aí, muito obrigada. Estou tão contente, mas tão contente, que a essa altura, Sua Majestade a Palavra me falta, me falha, me falta para exprimir realmente o que eu sinto e o que eu quero dizer a vocês!

Bom dia, boa tarde, bom tudo, bom, bom, bom.

Estou tão contente, estou tão feliz e tão agradecida ao querido Francisco Marins, querido, posso chamá-lo de querido? Ele é o meu querido... que me mostrou um país que eu não conhecia.
Em outros tempos, quando eu cheguei ao Brasil, e eu não o conhecia e cheguei falando três línguas, português foi a quarta. E como eu a devorei, como eu a assimilei. Eu penso em português, eu sonho em português, eu falo em português. Nos diversos "portugueses" do Brasil. Eu adoro sotaques, eu adoro maneiras de falar. O Brasil é tão grande, o Brasil é tão rico e Francisco Marins falou tanto e falou tão bem que me deixou pouca coisa para dizer.
Mas eu só queria fazer um pequeno retrospecto do que querem chamar de minha carreira.
Eu nunca tive uma carreira, eu tive uma trajetória, que começou no norte da Europa, na janela do quarto andar de Riga para o rio Dviná e suas quatro pontes, para as quatro estações sensacionais daquele norte, daquele frio gelado, daquela primavera colorida.
Colorido também o outono, calor no verão, pinheirais de pinho de Riga, pontes que eu via da minha janela. Era tudo tão mágico, tão bonito. Eu achava que era muito natural, que era tudo assim, que era assim mesmo. Foi aí que houve uma virada na minha trajetória. Foi quando não mais que de repente, fiquei sabendo que iríamos embora enfrentar uma grande viagem de transatlântico no mar, no oceano, até um desconhecido e misterioso país chamado Brasil, do qual eu tinha ouvido falar muito pouco. Até porque a única vez que eu ouvira esse nome Brasil foi num selo de correio – meu pai colecionava selos e também moedas. Ele era um colecionador e era um contador de histórias e um performático diseur de poemas.
Eu me criei com poemas, fui criada entre poemas de grandes poetas russos. Imagina, até Maiakovski eu peguei, ou ele me pegou... Os alemães, Goethe, Schiller, Heine. Eu poderia recitar muitos trechos deles de cor até agora, mas eu peço licença, ao invés de citar e recitar e traduzir grandes poetas russos, alemães e franceses, eu gostaria de pedir licença para citar um poema que foi uma das grandes viradas da minha trajetória. Foi quando eu conheci um brasileiro, estudante de medicina chamado Júlio Gouveia, que já era psicólogo, que era homem de teatro e poeta. E da primeira vez que nos encontramos... ele tinha um automóvel – e naquele tempo um estudante que tinha um automóvel era algo muito espantoso. Ele me deixou em casa depois de irmos ao cinema ver um filme da Shirley Temple. E foi embora para a casa dele. E na manhã seguinte, de manhã quando eu acordei para ir ao meu emprego – eu tinha um emprego – e também ao meu curso de Filosofia na Faculdade de São Bento eu vi um raminho de flores no terraço da minha casa, abaixo da minha janela, e desci. E era um raminho de flores dessas apanhadas pela rua com um bilhetinho com um poema, um acróstico que eu me permito citar e recitar, porque foi o começo de uma outra trajetória na minha vida, que me levou até o dia de hoje. E esse acróstico era o meu nome – Tatiana.

Trazes no peito um sonho de ventura
Amável sonho que te embala a vida
Tornando-a suave e menos mal sofrida.
Irmão do teu, sequioso de ternura
Arde outro sonho dentro de meu peito
Não te parece assim bela medida
Amarmo-nos os dois num só proveito?

Ele era poeta mesmo. Era homem de teatro, psicólogo, ele era psiquiatra, e era ... era... meu marido!
Era companheiro de grande viagem pela vida, pelo mundo, pela língua e pela Sua Majestade a Palavra. Eu chamo a Palavra de Sua Majestade. Eu sempre me refiro a ela Sua Majestade a Palavra. A Palavra que manda em mim e na qual alguns têm a capacidade de mandar também. Não são tantos assim, mas estão todos aqui na minha frente. Toda essa... como direi... não é assembléia. Esse grupo... de super privilegiados, como eu diria... olha, eu estou falando como o Francisco Marins.
Representantes eleitos só 40, de uma meritocracia paulista. Posso usar um termo destes? Não é uma meritocracia que está aí na minha frente? Então eu não vou, eu não tive tempo para ser breve.
Sabe quem disse isso? O Padre Antonio Vieira: "Para ser breve é preciso tempo", e eu não tive tempo para ser breve. Mas como o veterano Francisco Marins querido deu uma aula completa e ensinou tanta coisa... a todos nos somos educadores. Todos nós educadores. Tudo o que fizemos e fazemos é educar quem está na nossa frente, as novas gerações e até as velhas gerações. E eu ainda tenho muito que aprender.
Olha, é isso aí, muito obrigada. Estou tão contente, mas tão contente, que a essa altura, Sua Majestade a Palavra me falta, me falha, me falta para exprimir realmente o que eu sinto e o que eu quero dizer a vocês!
Muito obrigada. Muito, muito obrigada.




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