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DISCURSO DE POSSE DO ACADÊMICO MICHEL TEMER
Acadêmico: Michel Temer
Confesso que o ato de hoje remete meu pensamento aos meus 15/16 anos quando imaginava que seria escritor.

Discurso de Posse na Academia Paulista de Letras

Acadêmico MICHEL TEMER

Maio, 26, 2022

Não preciso dizer da enorme satisfação que tenho ao ser admitido nesta Academia Paulista de Letras. Confesso que o ato de hoje remete meu pensamento aos meus 15/16 anos quando imaginava que seria escritor. E assim pensava por que já aos 13/14 anos uma professora de português no meu curso ginasial me incentivava à leitura tendo em vista narrações escritas que eu fazia por sua determinação e que geravam nela a ideia de que eu escrevia bem. Morando em pequena cidade do interior, onde não havia livraria a não ser para a venda de material escolar dizia-me ela para procurar a biblioteca pública da Prefeitura Municipal e lá retirar os livros devolvendo-os uma ou 2 semanas depois e, naturalmente retirando outro livro para a leitura. Foi assim que li os clássicos brasileiros: José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Machado de Assis e os poetas Castro Alves, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela E mais tarde outros tantos poetas e cronistas que acendiam a minha imaginação e me colocavam a ideia de que o meu caminho seria buscar imitá-los. É claro que meu aproveitamento, naquela idade não foi dos melhores. Daí porque voltei a relê-los tempos depois. Encantavam-me aquelas leituras. Confesso que cinematografava na minha mente todas as cenas descritas no livro. E lia também, com interesse, a revista do Centro Acadêmico XI de agosto que o meu irmão Fued Temer, já estudante de direito, levava para a minha leitura. Conto até um episódio curioso: decorei, aos 10 anos de idade, dois poemas. (Declamar) Um intitulado a Mulher Que Eu Não Queria e outro Filosofia De Um Diretor de Circo e fixei o nome do estudante autor daqueles poemas. Tempos depois sendo eu Procurador Geral do Estado passou pela Procuradoria meu estimado e saudoso amigo Ronaldo Porto Macedo que me convidou para ir à posse do Procurador Geral da Justiça. Lá chegando ele me apresentou: conhece o procurador Antonio Malanga? Disse-lhe: não conheço, mas conheço os seus poemas e os declamei. Ele ficou surpreendido e me disse: interessante, foram os 2 únicos poemas que escrevi quando estudante de Direito. Expliquei então a ele toda a minha história aos 10 anos de idade. A vida foi passando e ao invés de escrever livros de poemas, logo no primeiro ano da Faculdade de Direito lançaram me na vida pública já que fui candidato eleito a segundo tesoureiro do Centro Acadêmico XI de Agosto. E depois candidato à presidência do mesmo centro acadêmico. Depois ainda, já formado, e de breve incursão como oficial de gabinete do professor Ataliba Nogueira, então Secretário da Educação, comecei a vida profissional na advocacia e modestamente no magistério. E foi a partir daí que pude escrever meus livros de direito constitucional e mais tarde, tendo ingressado na atividade política, volume de ciência política e muito tempo mais tarde realizei o meu sonho de publicar também modesto livro de poemas. Faço essa pequena introdução para revelar o imenso orgulho de poder privar da companhia daqueles que hoje compõem esta academia os quais acompanho há bastante tempo pela leitura de seus escritos. Quero lembrar de figuras que tem me acompanhado ao longo da vida e que me deram a alegria de lembrar-se do meu nome para que eu pudesse desfrutar deste momento. Ives Gandra da Silva Martins, Gabriel Chalita, Renato Nalini, Raul Cutait, Eros Grau, Rubens Barbosa, Synésio Sampaio Goes Filho, José Pastore, Celso Lafer, Antonio Penteado Mendonça incentivaram-me a esta caminhada. Mas outros tantos conviveram e acompanharam a minha vida pública como Jô Soares, Miguel Reale Jr., Tércio Sampaio Ferraz Jr., José Gregóri, João Carlos Martins, Roberto Duailibi, João Lara Mesquita, José Goldemberg, Júlio Medaglia, Walcir Carrasco, Paulo Nathanael, Maurício de Souza, Bolivar Lamounier, com os quais posso recordar passagens expressivas do meu roteiro. Os demais eu os acompanhei na sua produção intelectual. Ainda, particularmente honrado por ter sido indicado à cadeira anteriormente ocupada pela eminentíssima escritora Renata Pallotini a quem rendo minha homenagem pela sua próspera e produtiva vida pessoal e profissional. Dramaturga, ensaísta, poetisa professora universitária na área de teatro e tradutora enalteceu as letras brasileiras e esta academia. Marcou gerações de dramaturgos e dramaturgas com muitos livros publicados Como obras infantis e juvenis tais como as 3 Rainhas Magas, o Chão de Palavras, o romance policial Chez Mme. Maigret e estudos de dramaturgia como Dramaturgia da Televisão. Professora emérita da Universidade de São Paulo desde 2012 deixou saudades entre seus alunos da Escola de Arte Dramática na qual já havia estudado nos anos 60 e no Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes. Além de poesias publicadas foi novelista e roteirista de programas televisivos. A sua versatilidade foi sempre revelada pela extraordinária capacidade de produção nos vários campos em que atuou. Fez também várias adaptações de autores brasileiros ressaltando os livros de José de Alencar. Incrível o número de prêmios recebidos por ela. Da Associação Paulista dos Críticos de Arte o prêmio Anchieta; da comissão estadual de teatro pela obra o Escorpião de Numância, o prêmio Moliere e o prêmio Governador do Estado pela peça o Crime da Cabra. Enfim, inúmeros reconhecimentos consolidados por meio de prêmios conferidos àquela que militou na área intelectual como é o caso da escritora Renata Pallotini. Mas também quero fazer uma reverência à figura do patrono desta cadeira que é José Ezequiel Freire de Lima que foi cronista e poeta, jurista e juiz de direito. Não posso deixar de reverenciar a figura do fundador da cadeira o jurista Reinaldo Porchat, grande orador e extraordinário Senador. Anoto que ele renunciou ao cargo dois anos depois de assumir em razão do Senado curvar-se ao Poder Executivo. Outro titular foi o Professor José Soares de Mello, do interior de São Paulo, formado pela Escola do Largo de São Francisco e estudioso do Direito Penal. Finalmente, antes de Renata Pallotini , Hernani Donato, da cidade de Botucatu apaixonado pela sua terra, a divulgou intensamente. Lembro o seu “Achegas para a história de Botucatu”. Quero ainda homenagear os colegas da academia. Permitam-me ressaltar a velha amizade que tenho com inúmeros de seus membros que sempre me prestigiaram e aos quais devo boa parte da minha vida profissional e pública. Assim também a gentilíssima lembrança que tiveram ao proporem o meu nome para este sodalício. Uma homenagem especial à querida Ligia Fagundes Telles que recentemente nos deixou. Deixou-nos fisicamente, mas manteve-se na nossa memória como alguém que fez muito pela literatura brasileira e que também fez muitos amigos ao longo do tempo. Conto até que em 1960 sendo eu segundo anista de direito e presidente da chamada comissão de trote chamei, por sugestão dos calouros, a já escritora Lygia Fagundes Telles para apadrinhar aquela turma. Foi um sucesso. Seu discurso impressionou a todos quantos calouros a ouviram naquele dia. Quero também prestar uma homenagem especial ao meu colega de Faculdade de Direito Celso Lafer, que desde então se revelava alguém voltado para a literatura e para a ciência jurídica. Seus estudos referentes a escritora Hanna Arendt precisos e profundos fazem-nos interessar com muita curiosidade pela vida daquela grande autora. Membro desta academia e da Academia Brasileira de Letras, Jurista, Ex-Ministro de Relações Exteriores quando desenvolveu extraordinário trabalho para divulgação do nosso país e sua consolidação no concerto Internacional. De fora a parte o orgulho de pertencer a esta academia também inscrevo no meu currículo o fato de ter ser sido recebido nesta casa pelo discurso de homenagem do professor e amigo Celso Lafer. E a esta altura me ocorre dizer o que significa escrever: nos livros técnicos a sensação agradabilíssima de estar transmitindo alguns conhecimentos e formando aqueles que virão depois; no livro de poemas e de contos a alegria de usar a tinta no papel para revelar todas as emoções que ocupam o nosso cérebro e o nosso espírito.
A todos o meu preito de gratidão e a certeza que tenho de que muito aprenderei ao desfrutar da companhia brilhante e intelectualmente exuberante dos membros desta Casa. Aliás, registro que esta Academia abriga as mais variadas tendências de pensamento, o que revela a sua democracia interna coincidindo com o Art. 1º da Constituição Federal. Esta heterogeneidade respeitosa pode servir de exemplo para o Estado Brasileiro e para suas autoridades que devem pautar-se pelo debate de ideias e não pelas agressões pessoais e físicas. A paz, que não impede o conflito de ideias e programas, é determinação da Constituição brasileira e a ela todos hão de prestar obediência. Daí porque ao finalizar este meu agradecimento não poderia deixar de registrar o exemplo que esta Academia dá ao País e que deve ser permanentemente divulgado. Permitam-me, finalmente, dizer que fiquei tão entusiasmado e feliz com esta entrada na Academia Paulista de Letras que amanhã, sendo sexta feira, nada farei. Sextar-me-ei.




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