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DISCURSO DE POSSE
Acadêmico: João de Scantimburgo
"Mas o nosso dever é o de cultivarmos as letras. Se não alcançamos a beleza na sua plenitude, sejamos-lhe, ao menos, fiéis adoradores, em êxtase admirando a sua face resplandecente."

Dentre os problemas do mundo, que mais nos preocupam e nos aguilhoam a inteligência, o tempo situa-se num dos primeiros lugares. Se nos debruçamos sobre ele, tentando aceitar o seu desafio, em breve nos reconhecemos incapazes de sondar-lhe o profundo mistério. Estamos no tempo, sabemos que, fisicamente, ocupamos um lugar no espaço, enquanto flui o tempo; pelos sentidos e pelo pensamento, percebemos o tempo, a cuja disciplina estamos sujeitos,i mas não conseguimos dar-lhe uma definição que nos satisfaça e lhe seja adequada. A sua concepção tem variado, através dos séculos. O tempo do Timeu se ajustava às observações dos astrônomos.ii Para o sublime Platão todas as estrelas eram necessárias à criação do tempo.iii Já o imenso Aristóteles afirmava que o ser tem diversos aspectos sucessivos, enquanto o tempo se conserva uno. Se consultarmos o pensamento dos outros filósofos gregos, neles não encontraremos definições que nos bastem, nem mesmo ao estabelecerem, entre o tempo e a alma, as relações que só puderam ser aceitas com o advento do cristianismo, e dos filósofos cristãos.iv
O problema é complexo. Que é o tempo? Como se define o tempo? O tempo prepara a eternidade. Mas a eternidade antecede ao tempo e o sucede. Possuímos a experiência do tempo, e não sabemos defini-lo. Santo Agostinho já o dizia, com o peso da sua autoridade: "Se me interrogam sobre o tempo, sei o que ele é; se me questionam, já não sei mais".v Tem sido, por isso, a passagem do tempo um dos fundamentos do evolucionismo. Sem dúvida, assistimos a mudanças e as sofremos. Neste exato momento os ponteiros do relógio se movem, e, com eles, o mundo. A vida, as idéias, as teorias, as doutrinas se acrescentam de novas contribuições, ou envelhecem, fenecendo, mesmo, de caduquice. Mas, nem por tudo evoluir, deixamos de ter um eixo, em relação ao qual a evolução se processa. A evolução não é universal; supõe uma referência a um ponto fixo, não evolutivo, razão por que consideramos indefensável a evolução criadora, segundo Bergson,vi se a tomarmos, com o filósofo, como um bloco maciço.
Operam-se transformações no mundo, porém, cada ser humano carrega dentro de si mesmo a sua história, o seu tempo, em vários estágios, que não se podem universalizar nem integrar-se numa totalidade única. Colocado, pois, o ser humano em face dos seres, no tempo, o Ser supremo reponta como uma realidade imperativa, convencendo-nos de que a evolução, as mudanças, as transformações são muito menos do que tudo quanto vemos e sentimos. Se o destino da pessoa fosse temporalizado, se fosse apenas coextensivo ao espaço, estaria em contradição com os seus constitutivos reais, que se ligam a uma ordem universal, de que o tempo e o espaço são tipos e antítipos. O horizonte da temporalidade não é, portanto, recuado pela evolução. O tempo existe; ele nos conduz à eternidade, ou somos conduzidos à eternidade, ultrapassando os seus horizontes.
A ciência e a técnica, com as suas descobertas, as suas invenções, os seus produtos, concorrem para atrofiar no homem as raízes do passado, erigindo o presente como um fim último do seu roteiro na Terra, esse domínio do tempo. Reconhecemos, angustiados, a dificuldade em que nos metemos, aventurando-nos pela vasta seara do tempo, onde tudo é incorpóreo. Sentimos o tempo, estamos-lhe sujeitos, sofremos, diariamente, a tirania das horas; vivemos enquadrados em compromissos, sobretudo no Ocidente e no Sistema Ocidental, pois só recentemente os povos médio-orientais, os povos do deserto, das caravanas sem pressa, vêm começando a aceitar as obrigações, que decorrem da inexorável tirania dos horários. Não é, também, o tempo uma intuição do nosso estado interior, como queria Kant. Os equívocos, os erros, as falsas interpretações dos livros santos; o poder do raciocínio e as indagações, desde os gregos até aos nossos dias, já envolveram, e muito, os conceitos do tempo e da eternidade na densa neblina da confusão. O milenarismo tem repontado em várias idades históricas, no curso do pensamento. Combateu-o Santo Agostinho, indigitando-o nos primeiros Padres da Igreja, os quais chegaram a atribuir à eternidade o caráter temporal, e a formar a imagem de um eterno - tempo. Invadem-nos as dúvidas, como se vê, embora a esmagadora maioria da população do mundo, vivendo sujeita ao tempo, não se lhes dê conta, nem delas cogite no seu cotidiano.
Só terá sentido o tempo se admitirmos a eternidade. Limitando-se, exclusivamente, ao tempo, as filosofias da imanência não lhe encontrarão explicações. Daí derivarem - e aqui nos referimos ao gênero, - para extrapolações, que abicam na insuficiência, como se dá com o realismo crítico, o existencialismo ateu, o materialismo marxista, e as várias formas contemporâneas de racionalismo. Heidegger, em nossos dias, foi um dos maiores representantes dessa genealogia filosófica, toda ela aplicada ao pensamento sem finalismo. A sua obra O Ser e o Tempo que teve grande influência nos círculos universitários alemães da década de 30, a década do nazismo, foi elaborada para afirmar o horizonte definitivo da temporalidade. Prova e comprova, contudo, o mundo presente, que, circunscrevendo-se a um horizonte sem abertura, a temporalidade confina o ser no embaraço total. Todas as reflexões de Heidegger não vencem o círculo da imanência.
Não se explica o ser pela temporalização,vii mas, pela conjunção do tempo com a eternidade. O "mistério dos seres itinerantes que nós somos", da bela expressão de Maurice Blondel,viii é o que deve ser considerado, se quisermos enfrentar, para vencê-la, a forte corrente das crises, de que o humanismo ateu é a toxina deletéria da nossa civilização e da nossa cultura.
A eternidade nos escapa; o tempo é, para nós, uma realidade misteriosa,ix mas temos de resolver o problema ou procurar resolvê-lo, se quisermos reconhecer um significado na vida. A humanidade verte o suor de erros multisseculares, acumulados em sua história. O futuro foi e continua sendo marcado de presságios. Como em todas as épocas da História, no entanto, aqueles que são protagonistas ou comparsas de seus dramas, não percebem claramente os acontecimentos que se vão encadeando nos elos desta imensa crise mundializada. Enfraquecida em seus rizomas sobrenaturais, pela dissolução da pessoa no tempo, a sociedade humana atravessa uma fase histórica, na qual os valores espirituais são suplantados pelos valores materiais, o infinito vai sendo vencido pelo indefinido, e o amor perde a imagem de reflexo do amor de Deus. O resultado dessa subversão de valores, cifra-se em que o homem deste século não descobre um sítio onde possa repousar tranqüilo, pois o bem espiritual e o bem social estão minados nas suas bases pelo temporalismo milenar. Sem encontrar, por isso mesmo, o apoio da fé, o ser humano volta-se para a superstição, para os mitos, nos quais espera achar, não só justiça, como, também, resposta aos seus anseios de paz. A superstição e o mito são, no entanto, apenas um esforço para captar o Absoluto nos limites da natureza. O progresso contínuo, a soberania da razão, o cientismo, o economismo, o socialismo, a arte subjetiva, a autonomia tecnológica, as ditaduras totalitárias, o liberalismo político foram e são superstições alienadoras, insinuadas na consciência do ser humano, dominando-o, ao parecer, irresistivelmente.
No seu monumental Study of History,x Arnold J. Toynbee fala do complexo migratório que nos habilita a atrair a onda cultural no ato de sua viagem através do Espaço - Tempo. Todas as civilizações se interpenetram, nutrindo-se de heranças, da mais remota antiguidade aos nossos dias. Estão entrelaçadas as vinte e uma civilizações arroladas por Toynbee no seu gigantesco levantamento; solda-as a presença do tempo em civilizações que existiram e foram esgotadas, engolfando-se o seu legado em outras, que as sucederam. É histórica a temporalidade, mas nela palpita a eternidade. Não sabemos se o tempo vai ter epílogo. Anunciou o Cristo que passará o céu e a terra, mas as suas palavras não passarão. “Caelum et terra transibunt, verba autem mea non praeteribunt”. Para quem crê e tem fé, só as palavras de Cristo continuarão a ressoar nos espaços infinitos, se acabar a terra e tudo o que na sua extensão se contém, todas as obras criadas pelo gênio humano, todas as catedrais, todos os palácios, todos os monumentos, todas as idéias que germinaram em instituições e nelas se concretizaram; todo o bem e todo o mal que porejou no mundo. Se tiver remate o tempo, ficará, para sempre, a eternidade. É esse, portanto, o limite do tempo.
Reconhecemos não ser fácil admitir a intemporalidade abstrata do pensamento. Nos domínios da fé, cremos num "outro lado", num castigo e numa recompensa, mas, nos domínios da razão, hesitamos. A temporalidade constitui um repto para o ser. Se o mundo tem uma história, que começou e vai terminar, se as idades são abaladas por acontecimentos singulares, a eternidade, que coexiste com o tempo, na História, admite uma espécie de divisão e de medida. Tudo o que é, foi e será nas eras históricas individuais ou coletivas, reencontra-se eminentemente na eternidade, onde o tempo alcança o seu pleno sentido.xi O destino do ser não é imanente, como querem todos os erros filosóficos, de que se entretece a história do pensamento, sobretudo a partir da ruptura da escolástica pelo nominalismo; é transcendente, e o Absoluto lhe fornece a chave para a decifração de seu enigma.
O tempo é a matéria-prima da História. Somente nós, os seres humanos, consignamos na existência esse fato incoercível, mas real. Não o teve o Cristo, pois segundo o teólogo Urs von Balthasarxii não devemos procurar no Filho de Deus uma oposição entre a forma da existência temporal e a existência eterna. O historiador intercepta o vôo do tempo, retendo-o em livros, em arquivos, para que os acontecimentos sejam acessíveis à consulta, e deles se tirem inferências sobre a vida pregressa das nações, sobre os desastres que sepultaram povos, sobre as suas glórias e vicissitudes, esses contrastes de que a História é tecida. Não conhecemos romance mais emocionante do que a história real dos povos. Palpita em suas páginas uma grande paixão pela vida. Até mesmo de história menos rica, como é o nosso caso - e Euclides da Cunhaxiii disse, em discurso, com o qual não concordamos, que temos Anais, não História, - até mesmo em nosso caso a reconstituição do passado é empolgante. O historiador ausculta o tempo, inquire as pulsações da nação, ou da humanidade, e faz o perfil do povo, ou dos povos, segundo as características de cada época.
Esta é uma era secularizada da História. As conquistas da ciência, os audaciosos avanços da tecnologia na transformação da terra e no vôo aos espaços siderais, vieram dar ao ser humano uma confiança ilimitada em si mesmo, levando-o a se crer suficiente no plano temporal. Mas ainda nos situamos, com Donoso Cortês,xiv no eixo cristocêntrico ou teocêntrico da História. Para nós, uma autêntica axiologia da História deve originar a axiofania do Cristo. Se tomarmos o formidável recenseamento das civilizações a que Toynbee procedeu, veremos que esse gnóstico, como o chamou Maritain,xv fornece-nos material abundante para o reforço de nossa tese. Passam heraclitamente os milênios no itinerário das idades, enquanto, subjacente a eles, arfa, na expectativa humana, o desejo ou a nostalgia do divino.
Daí o ser humano, que não crê em Deus, fabricar deuses e neles crer. Não há para a inteligência problema de importância maior, como diz Maritain,xvi do que as relações entre liberdade divina e liberdade humana, na formação da História. A concepção materialista, ou imanente da História, devemos opor a concepção espiritualista, ou transcendente; o tempo intercalado na eternidade, não cerrado sobre si mesmo, como querem as filosofias materialistas. Seria impossível fazermos aqui o exame das teorias da História. Não falaremos do relativismo filosófico de Spengler, cuja antevisão da decadência do Ocidente malogrou, nem focalizaremos a lei dos três estados de Comte, artificial e imaginosa. Mas afirmamos que a concepção materialista, ou imanente da História, como a encontramos em Hegel e Marx, é ineficaz, e se viesse ela a triunfar, não parcial, mas definitivamente, causaria a ruína da civilização e da cultura. Por mais que milhões de habitantes da terra ignorem quem tenha sido Hegel, e de Marx apenas ouçam o alarido da propaganda comunista, estamos sob o signo inegável do hégelo-marxismo.
Hegel trasladou para a História o pan-tragicismo que, diz seu notável exegeta, Jean Hyppolite,xvii sustenta-lhe a filosofia, e procurou identificar a razão humana com a razão divina, pela soberania do Espírito, ao qual chegaremos através da dialética, constituída em realidade. Mas, contrapondo-nos a esse pensamento, afirmamos que, pelo movimento da dialética, o ser humano, e, com ele, a História, não vencem os limites da imanência, e não chegam nunca à transcendência divina, à concepção teológica da vida. Na Filosofia da História Universal, Hegel afirma que a razão rege o mundo, sem relação com Deus.xviii Para Hegel a razão tem o seu fim em si mesma, existe e se expande por si mesma. Aparentemente, em Hegel o Espírito é o Verbo, mas o reino do espírito foi criado pelo homem.xix Os conceitos de senhor e escravo, esquemáticos e falsos, foram engendrados, consoante Hegel, pelo cristianismo, quando a História nos testemunha exatamente o contrário: a libertação foi trazida ao mundo pela mensagem cristã. Está certo, portanto, Jean Hyppolite, ao assentar o fulcro da visão hegeliana do mundo na idéia de destino, que o mesmo autor amplia, atribuindo uma concepção trágica à sua dialética. A filosofia hegeliana da História, e sua teoria, vão preparando o ocaso da nossa civilização, que será inevitável, se não se lhe opuser uma vigorosa reação espiritual.
Vem na filosofia de Maurice Blondel,xx que não há ações isoladas na face da Terra; umas se implicam em outras e vão repercutir na eternidade. Na filiação dos erros, Hegel entronca-se remotamente no antigo nominalismo medieval, e, mais proximamente, no racionalismo kantiano, enquanto os seus discípulos, ortodoxos ou dissidentes, abeberaram-se de sua filosofia e procuraram dar rumo à História, obedecendo a concepção própria. Integra-se nessa linha o maior de todos os seus discípulos, Karl Marx, para quem o materialismo histórico diviniza o homem, graças ao movimento dialético da matéria, como acentua Jacques Maritain.xxi Se, no entanto, interpretarmos corretamente a teoria marxista da História, chegaremos à bizarra e paradoxal conclusão de que o seu autor quis antes fazer história do futuro do que história do passado. Marx não admitia nada de absoluto ou transcendente na vida, na religião e no pensamento humano; na sua teoria tudo é produto da História, e toda a História resultado do processo econômico.xxii
Na Crítica à Filosofia do Direito de Hegel,xxiii na Ideologia alemã,xxiv na Introdução à crítica da economia política,xxv e no Capital,xxvi sua obra mestra, o materialismo histórico se erige na própria escatologia da História, desvendando, enganadoramente, para o ser humano, a idade de ouro, por que tanto vem ele ansiando, através de milênios. Profetismo utópico e trágico, esse, concorreu, com outros erros nos quais tem bracejado o ser humano, para a terrível crise, em cujas tenazes nos debatemos, já quase desesperançados do reencontro da paz no seio das nações, da ordem nas relações internacionais, do respeito aos direitos da pessoa e das liberdades, sem a garantia das quais a vida não tem sentido. Para Marx, o comunismo nos conduzirá ao fim da História; para a concepção espiritual, paleoscolástica e neoescolástica, somente os sistemas de liberdade fecundam a História, a fim de que o ser humano encontre no mundo a satisfação que a ordem da natureza e a promessa da Parúsia celeste lhe devem assegurar. Marx queria a solidariedade da teoria com a prática, a praxis, da existência, para realizar a sua ação revolucionária, no âmbito fechado da imanência, que não resolveu, não resolve, nem resolverá nenhum problema social, político, econômico e moral, pois no círculo do universo imanente não se encontram soluções para os graves, complexos, difíceis problemas humanos.
Teoria que se proclama realista, o marxismo liga-se, no entanto, ao idealismo filosófico, pois o único realismo autêntico é o que toma o ser humano no tempo e o conduz à eternidade, ao seu destino transcendente. Quando todos os bens forem postos à disposição do ser humano, ele ainda quererá mais; somente os valores espirituais o satisfarão. Não ignoramos que milhões de habitantes da Terra não pensam em Deus, tendo da História a visão imanentista de Marx e outros materialistas, mas não se deve ignorar, também, que a desarmonia interna do homem só será corrigida com o viático espiritual. Não há outro. O espetáculo do mundo no-lo confirma. Por esse motivo impõe-se ao historiador posição definida em face da procissão humana no tempo, a de não se deixar envolver pela dialética, que anula ou tende a anular a memória, mas, sim, manter-se adstrito à realidade e à verdade, que são assimilativas, no sentido atribuído por Maurice Blondel à assimilação: "incorporação autêntica e vivificante dos seres ao Sujeito divino".xxvii Se, para o materialismo dialético nada há fora do tempo, devemos classificá-lo e conceituá-lo como um temporalismo total. Não aspiramos - é evidente - ficar presos a esse terrestrismo sem finalidades. A História não é uma História santa, como queria Jean Danielou,xxviii mas também não é História dialética, da qual banida é a fé, obturada a via da esperança, e desfeito o sentido autêntico do amor, a grande novidade, que, segundo Paul Valery,xxix o cristianismo trouxe ao mundo.
É uma falácia - dizia Chestertonxxx - a teoria materialista da História, segundo a qual a ética e a política são, apenas, dois subprodutos do econômico, e acrescentava o grande escritor, com o seu perfeito "humour" britânico, que as vacas podem ficar de todo na satisfação de interesses exclusivamente econômicos, procurando melhores pastagens, mas devemos chegar à conclusão de que uma história bovina, em doze volumes, seria uma leitura insípida. Não estamos defendendo uma encarnação da História, mas a sua redenção pelo espírito, não o Espírito monista hegeliano, que é uma forma de imanentismo, mas o espírito cristão, transcendente, o espírito da assimilação cristã, que construiu as catedrais, que inspirou as cruzadas, que suscitou os santos, e fez na terra florescer o Amor em lugar do Eros, o qual, infelizmente - é esse mais um signo do materialismo do nosso tempo, - retoma o seu prestígio antigo. Pregamos com João Camilo de Oliveira Torresxxxi a reconstrução da harmonia do Cosmos, a volta à unidade perdida, a transfiguração da matéria, e um novo céu e uma nova terra. Vemos, com Vico, a História, como ciência, e até mesmo como ciência do "ricorso", não do "eterno retorno";xxxii com Augusto Comte,xxxiii os mortos cada vez mais governando os vivos; com Chesterton,xxxiv que a tradição é a democracia dos mortos, e, com Leibniz,xxxv a harmonia preestabelecida constituindo-se numa antecipação da ciência da cibernética, tudo, porém, sob a luz do espírito, da assimilação cristã, da crença na revelação divina, sem as quais a paz será apenas um sonho.
A História é o passado imóvel; não a altera, nem Deus Nosso Senhor, com todo o seu poderio. Pretendeu fazer história do futuro o sábio jesuíta padre Antônio Vieira, uma das maiores e mais belas vozes que Deus teve na terra. Na História do Futuro, disse o douto inaciano que "nós também havemos de falar de reinos e de impérios, de exércitos e de vitórias, de ruínas de umas nações e de exaltações de outras, mas de impérios não já fundados, senão que se hão de fundar; de vitórias não já vencidas, mas que se hão de vencer; de nações não já domadas e rendidas, senão que se hão de render e domar".xxxvi E quando Isaías fala a Israel, aconselhando-o, "Não vos lembreis das coisas passadas, e não olheis para as antigas",xxxvii a sua palavra é a de um profeta dirigindo-se ao povo que espere o Messias, não a de historiador. Com análogo pensamento, voltou-se para o futuro o filósofo messiânico Karl Marx, que procurou escapar à lei do passado, inscrita na longa vida dos povos, amparando-se, precisamente, em realidade social sem pretérito, o proletariado, que, por isso, era, na sua concepção, capaz de inaugurar a nova História humana.xxxviii Especulações mais ou menos fantasistas sobre o futuro não vingam. Ninguém há mais desmoralizado em nossos dias do que o futurólogo. Por isso mesmo, ele só faz previsões para daqui a duzentos anos, que ninguém vai conferir.xxxix
A História é o passado, mas o historiador opera a sua ressurreição e o conserva. O tempo, com a sua triagem implacável, os documentos e a sua interpretação, acabam fornecendo ao historiador imparcial a linha da reconstituição da verdade. Assim, os pósteros saberão analisar os acontecimentos passados, sacando-lhes ensinamentos, indicações, exemplos, sobretudo as lições que essa pedagoga insubstituível, a História, ministra a quantos dela queiram aprender. O historiador revolve o tempo que passou. É a sua vocação. O mistério da caprichosa peregrinação do ser humano no tempo, essa a atmosfera do historiador. Diz Raymond Aron,xl que o supremo objetivo do historiador é o de compreender os universos em que viveram os homens do passado. Estudando épocas transatas, investigando os antecedentes incrustados no tempo em instituições, em aventuras humanas, em gestas, em decisões, o historiador registra causas, procurando descobrir o mecanismo que lhes deu origem e lhes provocou o desdobramento. Aduz Raymond Aron que se não fosse a curiosidade, se os vivos não se interessassem pelos mortos, a História seria como a dos astros ou dos animais. A curiosidade, definida por Eça de Queirósxli como instinto de complexidade infinita, que, de um lado levava a escutar às portas e de outro a descobrir a América, essa a motivação do historiador. Partindo de vestígios e conseqüências, o genuíno historiador caça a fugitiva realidade das épocas desaparecidas e as eterniza.
É estranha a psicologia das vocações. São Paulo aconselhava que cada qual permanecesse na vocação para a qual fora chamado.xlii Imperscrutável no seu profundo sigilo, a vocação distribui ofícios, preferências, opções, que não se elucidam à luz da razão. Pode-se escolher a profissão de general, médico, carpinteiro, advogado, sem outra justificação que a de um chamamento vocativo irresistível. A História é uma vocação. Manusear velhos documentos, remexer arquivos, pesquisar a trajetória do ser humano, em cargos e posições, durante a vida; voltar-se para o passado, a fim de que o futuro não soçobre nas brumas do tempo, essa obra só se realiza ao apelo da vocação. Se não for imparcial como o juiz, se não se libertar da ideologia como o sábio, se não tiver a isenção do justo, o historiador perder-se-á na trama dos preconceitos, e perecível será a sua obra. É essa, portanto, uma categoria de estudiosos à qual a humanidade deve a sua memória. Não tivesse o historiador Aureliano Leite escrito a História de São Paulo, e, para nós, não haveria várias fontes acessíveis ao conhecimento do nosso passado. Amador Bueno não passaria de um nome em cunhal de rua, não tivesse Aureliano Leite lhe dedicado páginas estupendas de romancista-historiador. Sabemos o exato sentido da revolução constitucionalista, lendo Martírio e Glória de São Paulo. Um mineiro nos deu a interpretação do sacrifício de todo um povo, que interrompeu o seu trabalho, mobilizou-se de armas na mão, apenas para fazer esta reivindicação simplíssima, porém, considerável, a do império do direito contra o abuso do poder.
Conhecido e respeitado como historiador, Aureliano Leite foi, contudo, um completo homem de letras. Somente dele não sei que versejasse. Temos nessa incapacidade poética mais uma afinidade, que se acrescenta à do amor à História. Também eu, que o sucedo, nunca fiz versos. Faltou-me, até hoje, o dom poético, e agora é tarde para começar, sobretudo porque a poesia é uma vocação divina que não tive, embora Deus, na sua bondade, me haja gratificado com outras. Aureliano Leite foi historiador, contista, romancista, biógrafo, memorialista, escrevendo com brilho a História da Civilização Paulista, dignificando um gênero, o romance histórico, com Amador Bueno, o Aclamado, traçando biografias impressionistas nos Retratos a pena, fulminando a ditadura em Martírio e glória de São Paulo, evocando com humilde sinceridade o passado do qual participou, nas suas memórias, Páginas de uma longa vida, falando, escrevendo, agindo com um único, superior objetivo, o de servir à sua terra e seu povo.
Mineiro de Ouro Fino, ramo de velho tronco da melhor gente das Gerais, pelo lado materno, e de São Paulo, pelo paterno, com ilustres brasões no Castelo de Sintra, Aureliano Leite viria a ser um dos maiores historiadores de São Paulo, embora, modestamente, admitisse que sua obra deveria ser revista. Personagem fascinante de nossos círculos culturais, Aureliano Leite tanto e tão profundamente se radicou na Capital dos paulistas, identificando-se com seu povo, que desde cedo se destacou em árdegas lutas políticas na velha Academia do Largo de São Francisco. Rebelou-se, ainda muito moço, contra a oligarquia que dominava a política de São Paulo, e exercia decisiva influência sobre a política nacional; pugnou com amigos e colegas em luta aberta contra os "donos do poder", temerária atitude para quem deveria fazer carreira num São Paulo, ainda em fase inicial de seu desenvolvimento; aliou-se a outros para lançar a primeira agremiação oposicionista na República velha; foi revolucionário em 1930, revolucionário, de novo, em 1932; deputado, escritor, chefe de família, amigo, companheiro. Vida admiravelmente cheia, sobretudo de uma seiva que não se encontra fácil, a do ideal. Na Campanha Civilista, Aureliano Leite enfrentou o oficialismo todo-poderoso: não ficou com o P.R.P.; preferiu apoiar Hermes da Fonseca, apesar de ser o grande Rui Barbosa o candidato do situacionismo paulista. Demonstrou, assim, o seu inconformismo, e, sob muitos aspectos, inconformista viveu até à sua majestosa ancianidade.
Quando, em 1926, um grupo de paulistas entendeu ser chegada a hora de fundar um partido de oposição, o Partido Democrático, Aureliano Leite se apresentou voluntário, para aderir. Foi logo incorporado às novas hostes partidárias e, dentre os políticos que, naquele recuado ano da década de 20, estiveram no ato de fundação do Partido Democrático, na Chácara do Carvalho, residência do conselheiro Antônio Prado, antigo ministro do Império, encontrava-se Aureliano Leite. O Partido Democrático, com a Aliança Liberal, apoiou a eleição de Getúlio Vargas, opondo-se ao representante do perrepismo, Júlio Prestes. Tendo perdido no prélio das urnas, como disse, num arroubo de oratória, o tribuno João Neves da Fontoura, partiram os vencidos para o incerto prélio das armas, e ganharam. Ascendeu ao poder o gaúcho Getúlio Vargas, que, fiel às suas convicções castilho-positivistas, desde logo se mostrou refratário à reintegração do Brasil nos princípios da democracia liberal. Em 1932 não havia sido, ainda, restaurado o Estado de direito, rompido pelo movimento revolucionário de 1930. Uniram-se os paulistas contra o regime de exceção no qual porfiava Getúlio Vargas, e, pela "guerra cívica", reclamaram a constitucionalização do país.
Não se mobilizaram os paulistas contra um ditador para o subtrair do poder; levantaram-se por uma norma, a norma da lei contra o arbítrio, a lei de que a vetusta Academia é o santuário desde a sua fundação. Não importava aos paulistas a pessoa de Getúlio Vargas, mas o rompimento de um pacto tácito, o que justificara a revolução de 1930: derrubar uma oligarquia, para abrir ao povo a larga, embora, não raro, ladeirenta avenida do poder. Como Getúlio Vargas recalcitrasse na sua obstinação em se manter discricionariamente no governo, São Paulo conclamou seu povo e marchou contra o poder central. Um dos chefes da conspiração cívica, a conspiração que apenas reivindicava uma Constituição, Aureliano Leite, então com 46 anos, entornou mancheias de energia em todos os companheiros. Participou ativamente dos preparativos da revolução, e quando foi ela desencadeada em 9 de julho, integrou um de seus batalhões, seguindo para a frente de combate. São Paulo perdeu no campo de batalha, mas ganhou no campo da idéia - era o que lhe importava, - pela qual se levantou. Aureliano Leite gravou em páginas definitivas essa fulgurante história dos paulistas.
Escritor de múltiplos recursos, as letras eram o seu ambiente, o seu oxigênio, o seu meio, o seu lar intelectual. Mas ainda há outro aspecto da sua personalidade que gravado está, indelevelmente, na saudade de quantos com ele privaram e conviveram com ele: era tocante a sua bondade. Solidário com os amigos, fazia lembrar o provérbio do sábio rei Salomão: "O amigo é para todo o tempo, e para a angústia nasce o irmão".xliii Transmudava-se Aureliano Leite, quando algum de seus amigos se mostrava ou confessava triste ou preocupado. Era, por isso, da raça dos que se vão acabando, dos amigos sem mácula, dos amigos de sempre. Por onde Aureliano Leite passou, de sua passagem ficou o sulco luminoso da sua notável cultura, da retidão do seu caráter, do seu soberbo civismo, do límpido valor que ele atribuía à amizade. Nos partidos políticos em que militou, no Instituto Histórico, na Câmara dos Deputados, e nesta Academia, que ele tanto amava, Aureliano Leite deixou o sinal de sua presença, no sentido que Gabriel Marcelxliv atribuiu ao vocábulo, a sutil ascendência moral, a projeção do sentimento, que tornam a peso soa imperceptivelmente dominadora. Aureliano Leite fundiu em si mesmo os predicados morais aos culturais, e, com eles, conquistou posição definitiva no coração dos amigos, na sociedade em que viveu, na inteligência brasileira, da qual foi legítimo representante.
Aureliano Leite possuía o tipo físico do "bel uomo". Na mocidade foi, provavelmente, tentado pelo "eterno feminino". Não seria essa, em lugar do acaso e do parentesco, a sua preferência pela cadeira acadêmica de duas mulheres? Prisciliana Duarte de Almeida lhe era ligada pelos laços de família. Foi a primeira mulher acadêmica no Brasil, numa época em que, nem mesmo nos Estados Unidos, o movimento feminista havia conquistado direitos. Poetisa sensível, seu lirismo é repassado de carinho. Os seus versos brotaram das fibras íntimas do seu coração de mãe, esposa, amiga. Virtuosa e culta, Prisciliana Duarte de Almeida traduziu poemas de Goethe e Heine, falava fluentemente o alemão, o francês e o inglês, e era versada em humanidades. Foi escolhida para integrar em 1909 a Academia Paulista de Letras, que se fundava, não só por suas prendas, mas por sua inteligência e seus dotes culturais. Lendo-a, como que nos banhamos num sopro reanimador, num linimento de ternura, mais do que nunca necessários nestes dias selvagens que estamos vivendo. Poetisa da família, do amor conjugal e do amor materno, de Prisciliana Duarte de Almeida nos ficou o livro Sombras, onde foi recolhida toda a sua poesia.

Sombras das ramas verdes e floridas,
Sombras das aves a voar cantando,
Sombras pelas aragens sacudidas,
Sombras das criancinhas tateando,
Que sois de tantas vidas luminosas?
Que sois? - Vagas imagens tenebrosas?
Assim como essas sombras incolores,
Meus versos vão correndo mundo em fora,
Sem refletir a luz de meus amores,
Sem o brilho das lágrimas que chora
Meu doido coração, enluarado
Pela saudosa lua do passado:

Que sois, meus pobres versos forasteiros?
- Sombras daqueles que adorei na vida. . .
Como as sombras, também sois passageiros!
Em que memória encontrareis guarida?
Os que me adoram morrerão comigo,
E olvidada serei no meu jazigo. . .

Parece ter sido esse o seu testamento poético. Mas não foi ela esquecida, pois enquanto houver na terra quem leia os seus versos e vibre de emoção, a poetisa Prisciliana Duarte de Almeida será, para sempre, lembrada.
Prisciliana Duarte de Almeida, fundadora da Academia Paulista de Letras, escolheu Bárbara Eliodora como patrona da sua cadeira. Mais do que afinidade da mulher, a escolha traduziu a homenagem à "heroína da Inconfidência". Tudo quanto li até hoje sobre Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira, antepassada de Aureliano Leite, convenceu-me que era bela moça, inteligente e culta. Inácio José de Alvarenga Peixoto, mais tarde inconfidente, se deixou seduzir por sua beleza e pelo brilho de sua inteligência. Em Minas, no fim do século XVIII, encontrar uma jovem com tantos encantos como Bárbara Eliodora não seria fácil. A formosa moça, que viria a participar da conspiração para a independência do Brasil, partilhando com o marido e seus companheiros os riscos da grande aventura, deveria atrair, romanescamente, os idealistas, que fizeram das montanhas de Minas o patamar do sonho da independência de uma nação já madura para a conquista de sua emancipação histórica. Não é este o lugar para julgarmos a Inconfidência, através da Bárbara Eliodora, nem é o caso. Interessa-nos, apenas, Bárbara Eliodora, a sua heroína, a sua trágica vítima, pelo castigo que lhe foi infligido, com a perda do amado. Poetisa inspirada, Bárbara Eliodora deixou, no entanto, poucos versos. Joaquim Norberto de Sousa e Silvaxlv diz que os cuidados familiares arrefeceram-lhe o estro, devotando-se ela, inteiramente, à educação de seus filhos, um dos quais, a menina Maria Ifigênia, viria a ser cognominada princesa do Brasil. Mas deixou, também, versos que a crítica chegou a atribuir a seu marido. Não os escreveu Bárbara Eliodora de mão alheia. São seus. Afirma-o Aureliano Leite, como já o havia afirmado Joaquim Norberto de Sousa e Silva. Ouçamo-la no soneto a Maria Ifigênia:

Amada filha, é já chegado o dia,
Em que a luz da razão, qual tocha acesa,
Vem conduzir a simples natureza,
É hoje que o teu mundo principia,

A mão que te gerou, teus passos guia,
Despreza ofertas de uma vã beleza,
E sacrifica as honras e a riqueza
Às santas leis do Filho de Maria,

Estampa na tu’alma a caridade,
Que amar a Deus, amar aos semelhantes,
São eternos preceitos da verdade,

Tudo mais são idéias delirantes;
Procura ser feliz na eternidade,
Que o mundo são brevíssimos instantes.

Essa a musa da Inconfidência, a heroína que arrostou perigos, com o marido amado e os companheiros da Conjuração. Não poderia ser mais feliz a escolha da patrona pela fundadora da cadeira. A uma e outra as nossas homenagens, pelo exemplo que deixaram da suprema dedicação à beleza e à liberdade.

Senhor Alcântara Silveira

Perdi a conta das vezes que, depois de empossado na cadeira que, brilhantemente, ocupais, insististes comigo para me candidatar. Fostes dos que mais me persuadiram e animaram. Cedi à vossa pertinácia de amigo. Mas não foi somente o reconhecimento por vossa amizade que me ditou a vossa escolha para me receber nesta solenidade da Academia Paulista de Letras. Foi também a nossa afinidade por Maurice Blondel, a cuja filosofia sigo, de cujo pensamento sois adepto. Somos, agora, dois blondelianos nesta Academia. Agradeço-vos, ilustre acadêmico, notável escritor, a honra e a satisfação com as quais me distinguis.

Senhores acadêmicos

O homem de letras aspira, em geral, à glória da Academia. É uma espécie de consagração à qual ele deseja aceder. Varia a idade de chegar. De minha parte hesitei antes de bater à sua porta e de pedir à "ilustre companhia", que me desse uma cadeira entre as suas. Envolvido por absorventes preocupações, adiei, várias vezes, a hora de vos solicitar acolhida, senhores acadêmicos. Chegado o momento, tive a honra de merecer o vosso sufrágio, e de hoje, nesta noite, solenemente, como sempre convém às Academias, sentar-me convosco e convosco usufruir o convívio erudito e ameno. Agradeço-vos, senhores acadêmicos, a vossa recepção, e, desde agora, aqui me encontro, munido do sincero propósito de trabalhar convosco pelo destino das Academias, que é o de manterem aceso o fogo votivo da beleza artística nas letras, e vivo o fulgor do pensamento em todas as suas manifestações. Fomos chamados por uma vocação, a das letras, que é a mais difícil das artes. Não houve até hoje e, provavelmente, não venha a haver, nas letras, quem correspondesse a Bach e Beethoven na música, a Rafael e Leonardo na pintura, a Miguel Ângelo na estatuária. Nem Homero e Platão no grego, a mais harmoniosa e bela das línguas; nem Virgílio e Horácio no latim; nem Dante e Petrarca no italiano; nem Camões no português, nem Vítor Hugo e Verlaine no francês, nem Chaucer e Keats no inglês, nem Goethe no alemão, para citar apenas alguns nomes - os cimos, os nomes pinaculares, - chegaram a tão alto. Que poema ou página se compara com a "Paixão segundo São João" ou a "Nona Sinfonia? Com a "Disputa do Santíssimo Sacramento" e a "Mona Lisa"?
Com a "Pietá", a divina "Pietá"? Nenhum, nenhuma. Mas o nosso dever é o de cultivarmos as letras. Se não alcançamos a beleza na sua plenitude, sejamos-lhe, ao menos, fiéis adoradores, em êxtase admirando a sua face resplandecente. Muito obrigado.





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