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DISCURSO DE POSSE (10.08.2006)
Acadêmico: José Cretella Júnior
"Vejo, hoje, aqui presentes, os nobres Acadêmicos, aos quais me reunirei, para, uma vez por semana, discutir relevantes problemas nacionais."

Senhores Acadêmicos,
Minhas Senhoras e meus Senhores

Quero, antes de tudo, apresentar meus mais profundos agradecimentos a todos os Acadêmicos amigos, que me prestigiaram, indicando-me para fazer parte deste brilhante Corpo de intelectuais, que pertencem à Academia Paulista de Letras.
Vejo, hoje, aqui presentes, os nobres Acadêmicos, aos quais me reunirei, para, uma vez por semana, discutir relevantes problemas nacionais.
Muitas vezes me passou pela mente integrar essa plêiade seleta, concorrendo a uma vaga desta Academia de Letras, não por vaidade, confesso, mas pelo prazer de aprender com os eminentes Acadêmicos presentes.
Quando o querido colega e amigo Paulo José da Costa Júnior, por sugestão da Acadêmica Myriam Ellis, convenceu-me a apresentar meu nome, para concorrer ao claro deixado pelo falecimento de Silveira Peixoto, nem acreditei nessa magnífica oportunidade.
Depois de muito pensar nos prós e contras, além da responsabilidade que se me oferecia, concordei, tanto mais que, minha mulher, Agnes, assim como meus filhos, muito me incentivaram a aceitar a colaboração desses amigos. Aos poucos, fiquei sabendo que inúmeros Acadêmicos estavam apoiando meu nome, o que me animou a procurar os demais.
Agora, nesta solenidade, Agnes, querida esposa e colaboradora, com quem me casei ainda na Faculdade de Direito, compartilha comigo esta alegria, acompanhada dos meus filhos, José Neto e Célia e de meus netos, Ricardo e Juliana.
Consultando o art. 38, parágrafo 3°, da norma jurídica que rege os destinos da Academia, percebi que, neste discurso, deveria, antes de tudo, fazer principalmente expressa referência aos Acadêmicos que me antecederam, na denominada Cadeira n° 1. Fui lendo, com toda a atenção, os nomes do patrono, o Brigadeiro José Joaquim Machado de Oliveira (1790-1867), e de seu filho, Brasílio Augusto Machado de Oliveira (1848-1916), também chamado Barão Brasílio Machado, primeiro Presidente da Academia (1909), e de José de Alcântara Machado de Oliveira (1875-1941), e de José Carlos de Macedo Soares (1883-1968), o de Paulo Nogueira Filho (1899-1969), o de Osmar Pimentel (1912-1969) e o de Silve ira Peixoto (1990-2006).
O Brigadeiro Augusto Machado de Oliveira foi o primeiro titular da Cadeira número 1, tendo nascido em São Paulo, aos 8 de julho de 1790.
Assentou praça nas tropas ligeiras da Província de São Paulo e serviu na campanha Cisplatina, onde participou de vários combates.
Exerceu altas funções no Império, entre as quais a de membro do governo do Rio Grande do Sul. Por incrível que pareça, embora tenha exercido grandes atividades políticas, ainda encontrou tempo para escrever obra literária de inegável valor, na qual se destaca o "Quadro Histórico da Província de São Paulo". Faleceu em 1867.
Seu filho, Brasílio Augusto Machado de Oliveira, o Barão Brasílio Machado, nasceu em São Paulo, em 1848. Católico praticante, defendeu veementemente a Igreja, dos ataques que sofrera na época, e, por isso, a Santa Sé lhe conferiu a medalha "Pro Ecclesia et Pontifice", pelas mãos do Papa Leão XIII, e o título de Barão, pelo Papa Pio X. Foi catedrático da Faculdade de Direito de São Paulo e o primeiro Presidente desta Academia de Letras. Transfigurava-se quando subia à tribuna, revelando seus traços de grande orador. Faleceu em 1916.
O Professor José de Alcântara Machado, filho do Barão Brasílio Machado, nasceu em 1875, na cidade de Piracicaba. Prestou vários concursos, tornando-se catedrático da velha e sempre nova Academia, chegando a Diretor, em 1931, ano também em que foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Dedicou-se, além disso, à política, tendo sido vereador, em São Paulo, depois Deputado Estadual e, finalmente Senador Estadual, sempre atuando com marcante relevo. Em 11 de agosto de 1932, quando o milagre do rádio permitiu ao homem comunicar-se à distância, Alcântara Machado, então Diretor da Faculdade de Direito, pronunciou comovente oração, irradiada para todo o Brasil, emocionando seus ouvintes. Escreveu o notável livro "Vida e morte do Bandeirante", estudo da São Paulo colonial, mostrando como os bandeirantes empurraram o meridiano de Tordesilhas e tornaram o país ainda maior. Faleceu em 1941.
José Carlos de Macedo Soares nasceu em 1883, em São Paulo. Desde estudante, evidenciou suas qualidades de liderança, elegendo-se Presidente do Centro Acadêmico 11 de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Foi empresário, economista, banqueiro, Secretário de Estado, político, embaixador, Ministro da República, constituinte, escritor, historiador, administrador, Interventor em São Paulo e filantropo, na mais ampla acepção do termo. Em 1923, assumiu a presidência da Associação Comercial, dando-lhe grande relevo. Foi membro da Academia Paulista de Letras e da Academia Brasileira de Letras, dedicando-se mais à História. Foi presidente perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e duas vezes Presidente da Academia Brasileira de Letras. Faleceu em 1968.
Paulo Nogueira Filho nasceu em 1899, em Campinas. Exerceu o jornalismo no Diário Nacional, ao lado do grande Amadeu Amaral. Em 1956, escreveu o livro "Sangue, corrupção e vergonha", que teve enorme êxito. Perseguido por Getúlio Vargas, refugiou-se no exterior, onde viveu por 7 anos. Voltou ao Brasil, graças a um habeas corpus, impetrado por Waldemar Ferreira e subscrito por mais de 600 advogados, que o encaminharam ao Supremo Tribunal Federal, que o concedeu. Com a queda de Getúlio Vargas, voltou à política, elegendo-se Deputado Federal por São Paulo. Faleceu em 1969.
Osmar Pimentel nasceu em 1912, no Rio de Janeiro. Quando tinha um ano de idade, sua família mudou-se para Lorena e ele, como todo bom valeparaibano, falava com sotaque dos rr e ll. Em Lorena, fez os cursos primário e secundário, frequentando, depois, a Faculdade de Direito do Largo de S. Francisco, onde se bacharelou em 1937. Crítico notável, dos maiores que o Brasil já conheceu, seus primeiros trabalhos literários foram publicados na Revista do 11 de Agosto e os demais, na Folha da Manhã, no Jornal da Manhã, no Jornal de São Paulo e no jornal O Estado de São Paulo. Foi eleito para esta Academia, onde, em 1989, foi encontrar-se com Silveira Peixoto, no átrio da instituição- fato este relatado pelo próprio Pimentel. Faleceu em 1969.
Quem pretender conhecer mais minuciosamente a vida e a obra dos acadêmicos que me precederam, poderá consultar a Revista da Academia Paulista de Letras, número 164, pg. 108, de novembro de 1996.
Assim, chegamos, ao nosso querido Silveira Peixoto, que conheci pessoalmente e cuja filha, Vera, está aqui presente.
O Acadêmico José Benedicto Silveira Peixoto, meu amigo, inteligente, culto, erudito, de coração boníssimo, ocupou esta Cadeira número 1, de 1990 a 2006.
Em 1957, na companhia de Rubens Catelli, meu colega de turma, fomos advogados dos assistentes sociais paulistas, que o Governador da época, pretendia demitir, mas, depois da nossa defesa, apenas lhes foi aplicada a pena de mera suspensão por 15 dias.
Silveira Peixoto era, então, o Presidente da Comissão Processante, mas percebeu que os assistentes sociais nada tinham feito de grave, e que, colegas intrigantes os tinham acusado de perturbarem o serviço, atrapalhando serviço social paralelo, exercido pela esposa do então Governador. Silveira Peixoto, com seu grande coração, chamou-me de lado e disse que seus colegas da Comissão iriam pedir a demissão, dos indiciados, mas que ele não concordava e iria convencê-los a não aplicar-lhes a pena máxima. E assim foi.
Daí por diante, sempre tive contato com Silveira Peixoto e percebi, aos poucos, sua grande cultura, que passei a admirar. Ele traduziu para o português, diversas obras de William Faulkner, como os romances psicológicos e simbólicos "Santuário" (1931), "Luz de agosto" (1932) e" Absalão, Absalão" (1936), todos eles de linguajar difícil, uma vez que o autor usava termos e expressões do sul dos Estados Unidos.
Durante a ditadura de Getúlio Vargas, Silveira Peixoto, ao lado de Raimundo Pascoal Barbosa, protestou contra o regime. Ambos foram presos, mas, depois, foi-lhes concedida a liberdade.
Silveira Peixoto participou, também, da Revolução de 1930, na Brigada Ataliba Leonel e também da Revolução Constitucionalista de 32.
Exerceu vários cargos de diretoria na Sociedade Veteranos de 32 (MMDC). Possuía diversas medalhas, troféus, diplomas, títulos honoríficos e, entre outros, o Colar e a Grã-Cruz da Ordem do Ipiranga.
Cidadão Emérito Paulistano, foi Procurador da Prefeitura de São Paulo e, durante três décadas, consultor jurídico do Instituto Mauá de Tecnologia, além de ter pertencido aos Conselhos Curador e Consultivo da Fundação Cásper Líbero.
Além de pertencer ao tradicional Instituto Histórico e Geográfico, pertenceu também à Academia Cristã de Letras. Sua verdadeira vocação, porém, era o jornalismo, que exerceu durante toda a vida, trabalhando em vários periódicos, entre os quais o prestigiadíssimo jornal de Cásper Líbero, "A Gazeta", ao qual dedicou a maior parte de suas atividades.
Exerceu, também, a advocacia, demonstrando ser grande conhecedor das leis e, no crime, exímio lutador, quando se defrontava com a Promotoria.
Musicólogo, técnico em cooperativismo, teatrólogo e ator, em todas essas áreas mostrou grande aptidão.
Redigiu, certa vez, uma peça radiofônica, de divulgação de Rochedale, tema que, em outras mãos, seria enfadonho, mas, participando, em pessoa, do elenco, ouviu, mais tarde, deslumbrado, a obra transmitida em inglês, pela BBC de Londres.
Na área musical, escreveu vários textos e fez conferências, em todo o país, participando de rumorosa polêmica, da qual resultou o livrinho "Rapsódia de escândalos". Viajando para Piracicaba, visitou a Escola que ostentava o nome de Prudente de Moraes e soube, pelo diretor, que se estava nas vésperas do centenário de nascimento daquele Presidente. Isso o motivou a redigir a biografia de Prudente de Moraes, à altura de sua expressão histórica. O livro tem por título “A tormenta que Prudente de Moraes venceu”, com cerca de 400 páginas, obra de grande repercussão, que não pode ser dispensada em estudos sobre o Brasil, principalmente se o assunto for a época da consolidação da República.
Ao meu caro amigo Paulo José da Costa Júnior, que agora me recebe nesta Casa, meu reconhecimento especial pelo empenho com que lançou minha candidatura e trabalhou, incansavelmente, por mim.
A produção literária e jurídica de Paulo José é brilhante, salientando-se pela escolha original dos temas, sempre inéditos, e pela profundidade dos respectivos desenvolvimentos.
Em primeiro lugar, devemos citar a sua tese "Nexo causal", à livre-docência, uma das melhores obras que produziu. A seguir, escreveu sobre o tema "O direito de estar só", com o título "Tutela penal da intimidade", em 1969 a qual lhe deu a titularidade em Direito Penal, na Faculdade do Largo de S. Francisco. A Banca Examinadora era constituída de dois mestres da Casa, Basileu Garcia e Manoel Pedro Pimentel, sendo os professores de fora Salgado Martins, Everardo Cunha Luna e José Frederico Marques. Nem é preciso dizer que foi aprovado por unanimidade.
Entre as inúmeras obras de Paulo José, podemos citar "Meu São Paulo? Nunca mais", de 2003; "Delito e Delinqüente", 1978; "O Crime aberrante", 1996; "Crônicas de um criminalista", em dois volumes, de 1999 e 2001; "Da Tribuna de defesa", de 1990; "A missão do advogado", de 1999.
A ele, mais uma vez, quero reiterar minha profunda gratidão e a todos os queridos amigos e colegas, aqui presentes, agradecer o comparecimento a esta cerimônia, compartilhando comigo da grande honra e do júbilo de pertencer a esta tão prestigiada Academia!
Muito obrigado!





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