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DISCURSO DE RECEPÇÃO PELO ACADÊMICO PAULO JOSÉ DA COSTA JÚNIOR
Acadêmico: José Cretella Júnior
"Assim é que, ao findar esta breve saudação, reverencio o novo imortal, fazendo a saudação inusual, mesmo aqui, diante de um auditório tão seleto. É mais uma homenagem que presto a ele e à nossa grande amizade."

Quando Myriam Ellis telefonou-me sugerindo o nome de José Cretella Jr., seu antigo professor de latim, para a Academia Paulista de Letras, encampei prontamente a esplêndida idéia. E saí em busca de votos, junto aos confrades mais chegados.
A única dificuldade que encontrei foi a alegação de que a Academia é de Letras e não de Letras Jurídicas.
Por sinal de que, quando solicitei o voto ao professor Miguel Reale para Ada Pellegrini Grinover, dele recebi uma recusa firme:
- Esta Academia é de Letras, não de direito. Por isso o meu voto é de Renata Pallottini.
Mesmo assim, apesar de Renata Pallottini ser uma poetisa de grande valor, não foi eleita. Isto porque Ada Pellegrini, afora as obras de direito, publicara livros de literatura.
Não foi difícil demonstrar aos confrades que José Cretella Jr., bem antes de cursar as Arcadas, entrou para a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de São Paulo, onde se formou em Letras Clássicas e Literatura no ano de 1941.
Apenas concluído o curso, especializou-se em grego e latim, bem como em literatura brasileira. Escreveu uma série de livros didáticos, de português e de latim, destinados ao ginásio e ao colégio. Tais livros didáticos obtiveram um êxito enorme, que chegou a surpreender o próprio autor. Alcançaram mais de cem edições os livros de português para o ginásio, prestando-se à formação de muitas gerações de estudantes. Os livros de latim para o ginásio tiveram igualmente um número extraordinário de edições, 107 ao todo, de 1945 a 1952.
Cretella foi, ainda, autor de um livro de literatura brasileira e outro de literatura portuguesa, para o curso colegial. Neles conseguiu reunir as melhores páginas dos mais renomados autores do país. Foi o primeiro autor a inserir na obra uma poesia de Paulo Bomfim, até então poeta inteiramente desconhecido. E o José Cretella já conseguia vislumbrar no então jovem poeta o futuro Príncipe dos Poetas Brasileiros.
Em 1954 ganhou o Premio Drault Ernany, instituído pelo Jornal de Letras do Rio de Janeiro, com a obra A Poesia de Augusto dos Anjos, objeto de elogioso parecer de Oto Maria Carpeaux.
Em 1946 prestou o exame vestibular, entrando para a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, onde se formou em 1950. Nas Arcadas, onde foi colega de turma de Célio Debes, conheceu Agnes, com quem veio a casar-se.
Agnes e José formaram um par mais que perfeito. Raros os casais tão felizes quanto eles. Uma união verdadeiramente divina, permanentemente abençoada por Deus. Juntos vivem anos seguidos, desde os bancos acadêmicos.
Depois de casados, viajaram repetidas vezes ao exterior. As impressões das viagens foram estampadas nas obras Viajando pela Europa e pelo Mundo, bem como em Viajando pelos cinco continentes, com várias edições, sendo uma delas pelo Círculo do Livro, com mais de 10.000 exemplares, todas elas esgotadas.
Em parceria com sua esposa Agnes, publicou várias traduções de obras clássicas.
São elas: Dos delitos e das penas, de Cesare Beccaria; O Príncipe, de Maquiavel; A luta pelo direito, de Rudolph von lhering; As Institutas do Imperador Justiniano; A Teoria pura do direito, de Hans Kelsen; Do contrato social, de Jean Jacques Rousseau; A cidade antiga, de Fustel de Coulanges; Discurso sobre a servidão voluntária, de Étienne de Boétie e as Institutas do Jurisconsulto Gaio.
No ano de 1965 conquistou a livre-docência de Direito Administrativo na Faculdade de Direito da USP. Em 1969, tornou-se titular da mesma disciplina.
Publicou mais de 150 obras jurídicas. Delas se destacam o Tratado de Direito Administrativo, em 10 volumes e os Comentários à Constituição de 1988, em 9 volumes, que obtiveram o Prêmio Pontes de Miranda, no Rio de Janeiro. Escreveu ainda os Comentários à Lei da Desapropriação, além de várias outras monografias e artigos, publicados em revistas especializadas.
De tudo se depreende que José Cretella Jr., é, antes de mais nada, um humanista devotado e cuidadoso, preocupado com a pureza do estilo e apaixonado cultor da língua portuguesa.
A cadeira n. 1 desta Academia, a ser ocupado por Cretella, foi em seu início integrada por Brasílio Machado, que foi o primeiro presidente da Academia Paulista de Letras, desde sua fundação em 1909, até 1920. Sucedeu-o seu filho José de Alcântara Machado. Curioso notar que Brasílio, catedrático de direito comercial do Largo de São Francisco, não advogava no cível, sendo grande tribuno do júri de São Paulo. E Alcântara Machado, que lecionou medicina legal na USP, não era formado em medicina, mas em direito. Ambos foram, respectivamente, bisavô e avô do meu querido irmão-amigo Caio de Alcântara Machado, de quem tenho tantas saudades e a quem reverencio neste instante glorioso.

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Conheci Cretella no ano de 1965, quando prestamos juntos a livre-docência no Largo de São Francisco. Tornei-me seu grande amigo.
Ele sempre esteve a meu lado, nos momentos mais árduos da minha luta profissional. Assim, assistiu toda a minha defesa de tese quando prestei a titularidade em direito penal, no Largo.
Disponho de uma fotografia que reproduz a minha banca examinadora, constituída por Basileu Garcia, Everardo Cunha Luna, José Salgado Martins e José Frederico Marques, que pertenceu a esta Academia. E de outra que reproduz o doutoral, onde estão os professores que assistiram o concurso. São eles, pela ordem, para a direita: José Cretella Jr., Rui Barbosa Nogueira, Sílvio Rodrigues, José Carlos de Ataliba Nogueira e Ernesto de Moraes Leme, ambos antigos e valorosos integrantes desta Academia, Noé de Azevedo, José Pinto Antunes e Miguel Reale, que igualmente pertenceu a esta Casa até há bem pouco tempo. Na segunda fileira, vê-se o então docente Fabio de Mattia. De todos estes, estão vivos somente José Cretella e Fabio Maria de Mattia.
No ano de 1980, lecionávamos juntos na Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo. Nas noites de 4º feira, nos encontrávamos, em casa de Augusto Macedo Costa na Aclimação, José Cretella Jr., Ernesto Leme, Pedro Barbosa Pereira, Carlos Alberto Cinelli e eu. De lá seguíamos juntos, no automóvel do anfitrião Macedo Costa.
A amizade se estreitava sempre mais, com o passar dos anos. Freqüentava-lhe a casa, nas tardes de domingo, juntamente com nosso colega de Faculdade Irineo Strenger.

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Presenciamos certa feita, Cretella e eu, um conhecido nosso, que integrava determinava seita secreta, saudar seu companheiro. O cumprimento foi realizado mediante uma reverência estranha, curvando o dorso, ao mesmo tempo em que eram levantados ambos os braços.
Pois bem. Adotamos o inusitado e jocoso hábito e passamos a nos cumprimentar utilizando-nos desta saudação, mesmo em lugares públicos, causando espanto ou até perplexidade aos presentes. Tudo isso a denotar a amizade fraterna, que sempre nos uniu.

Assim é que, ao findar esta breve saudação, reverencio o novo imortal, fazendo a saudação inusual, mesmo aqui, diante de um auditório tão seleto. É mais uma homenagem que presto a ele e à nossa grande amizade.




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