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Acadêmico: Rubens Barbosa "Começo a cumprir a função com a qual fui honrado, função de saudar Rubens Barbosa, com uma pequena expansão, própria aos que costumam enlaçar em seus braços a velha Academia do Largo de São Francisco --- lá onde mora a Amizade, lá onde mora a Alegria. Rubens lá esteve, pisando o chão das nossas Velhas Arcadas, até o quarto ano do curso de Direito, quando --- por conta do Instituto Rio Branco e da carreira diplomática que abraçou --- mudou-se para o Rio de Janeiro. Bacharelou-se então em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro."
Excelentíssimo senhor José Renato Nalini, ilustre Presidente da nossa Academia, em nome de quem saúdo a todos que aqui estão, especialmente o Professor Fernando Henrique Cardoso e dois amigos queridos, Aloysio Nunes Ferreira e Modesto Carvalhosa. A este aqui ao meu lado refiro-me como "professor" --- o Professor Fernando Henrique --- porque no início dos anos sessenta fui seu aluno ouvinte na Faculdade de Filosofia da USP, na rua Maria Antônia. Permito-me lembrar palavras do nosso querido Paulo Bomfim ao saudar, no dia 30 de março de 2016, data de sua posse aqui, nosso confrade Celso Lafer: "A chácara do General Arouche, primeiro diretor da nossa primeira faculdade, engalana-se para receber uma das glorias da São Francisco". Paulo está entre nós, agora --- e para sempre --- sorrindo, a nos dizer que desta vez a chácara do General Arouche se engalana para receber uma das glórias da diplomacia brasileira. Eu não teria como começar estas minhas palavras sem lembrá-lo, o nosso Paulo, que --- perdoem-me esta expansão --- encantou-me como poeta e amigo, especialmente a Tania, minha mulher. Ela guarda carinhosamente uma cópia do seu discurso de posse cá na nossa Academia Paulista de Letras, no dia 23 de maio de 1963. Um almoço inesquecível, em seu apartamento, cinquenta anos depois, no dia 11 de dezembro de 2013. Começo a cumprir a função com a qual fui honrado, função de saudar Rubens Barbosa, com uma pequena expansão, própria aos que costumam enlaçar em seus braços a velha Academia do Largo de São Francisco --- lá onde mora a Amizade, lá onde mora a Alegria. Rubens lá esteve, pisando o chão das nossas Velhas Arcadas, até o quarto ano do curso de Direito, quando --- por conta do Instituto Rio Branco e da carreira diplomática que abraçou --- mudou-se para o Rio de Janeiro. Bacharelou-se então em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1971 obteve o título de mestre na Escola de Ciências Econômicas e Políticas de Londres, com tese sobre a tecnocracia militar na América do Sul. Permitam-me prosseguir, seguindo a praxe das saudações aos nossos confrades, lembrando seu percurso intelectual desde o ingresso no corpo diplomático. No início de sua carreira, em 1964 participou da XIII Conferência da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, em Paris. Depois disso, entre 1965 e 1986, esteve presente a sessões da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque. Viveu muitos anos em Brasília, servindo no Itamaraty e começou sua carreira como jovem secretário em Londres onde conheceu a mulher, a jornalista Maria Ignez. Depois --- em 1974 --- passou a chefiar o gabinete da Secretaria de Educação e Cultura do Distrito Federal, posteriormente pelo mundo novamente a andar, vivendo momentos inesquecíveis. Momentos que eu não poderia lembrar, todos eles, pena de permanecer a falar por muitas horas e mais horas. Menciono apenas sua passagem pela China para abrir a embaixada em 1975 e suas viagens pelos países socialistas do Leste Europeu, como chefe do Departamento responsável pelas relações do Brasil com esses países no Itamaraty. Em 1985 foi designado por Olavo Setúbal --- de quem conservo belas lembranças, em especial em torno do então chamado "solo criado", nos anos setenta --- para exercer a função de chefe de gabinete no seu Ministério das Relações Exteriores. Em 1988 foi nomeado embaixador do Brasil junto à Associação Latino-Americana de Desenvolvimento e Integração, em Montevidéu, função que exerceu até 1991, e ---quando de volta a Brasília ---, foi o primeiro coordenador nacional do Mercosul. Em janeiro de 1994 assumiu a embaixada do Brasil em Londres, desempenhando importante papel na divulgação da imagem do Brasil no mercado inglês e na atração de investimentos privados. Em meados de 1997, em meio a uma grande crise financeira iniciada na Ásia, procurou demonstrar aos investidores estrangeiros a especificidade do Brasil entre os chamados países emergentes e evitar a “crise de credibilidade” que ameaçava se abater sobre o país. Mais, instituiu então o Centro de Estudos Brasileiros na Universidade de Oxford, encomendando a especialistas ingleses a elaboração de um material didático de geografia ---Brazil in the school --- para ser distribuído às escolas de segundo grau do Reino Unido. Em junho de 1999 deixou a capital inglesa para assumir a embaixada do Brasil nos Estados Unidos em substituição a Flecha de Lima, sendo sucedido na embaixada de Londres por Sérgio Amaral. Durante o período que esteve à frente da embaixada de Washington, participou ativamente das negociações envolvendo a criação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Em junho de 2000, divulgou relatório em que criticava a postura protecionista norte-americana, afirmando que os Estados Unidos aplicavam tarifas extremamente altas sobre os principais produtos de exportação brasileiros. Lá foi responsável pela organização do maior encontro realizado até então entre brasilianistas e intelectuais brasileiros. Em dezembro de 2000 reuniram-se aproximadamente oitenta estudiosos --- entre os quais Kenneth Maxwell, Robert Levine, Thomas Skidmore, Carlos Guilherme Mota, Sérgio Miceli, Roberto da Matta e Luiz Alberto Moniz Bandeira --- para expor seus comentários a propósito do texto original do livro Guide to the Study of Brazil in the United States - 1945-2000, que a embaixada viria a lançar no ano seguinte. Curiosidade, de passagem: foi o único embaixador que trabalhou em Washington com dois governos opostos (FHC e Lula). Aposentou-se em 2004, mas continua ativo, vigoroso, notável, a escrever sem parar. Artigos, sobretudo os sistematicamente publicados n'O Estado de S. Paulo. Suas atividades hoje em dia, suponho --- suponho não! tenho certeza! --- ocupam seu tempo sem parar. Criou a empresa Rubens Barbosa & Associados, é presidente da ABITRIGO, Associação da Industria do Trigo e do COSCEX, Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Participa de diversos conselhos, quais o da empresa CSU Card System S.A e Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Mais, é membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da USP (Gacint). É presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior e presidente emérito do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos (Cebeu), além de editor responsável da Revista Interesse Nacional. Publicou os livros América Latina em perspectiva: a integração regional da retórica à realidade (1991); The Mercosur Codes (1997); Panorama visto de Londres (1998); Barreiras a produtos e restrições a serviços e investimentos nos EUA (2002); Mercosul, quinze anos (2007); Mercosul e integração nacional (2009); Interesse nacional e visão do futuro (2012); O lugar do Brasil no mundo (2018) e Um diplomata a serviço do Estado (2018). Além do mais, editor e organizador de O Brasil dos Brasilianistas (2002), Brasil-Estados Unidos, assimetrias e convergências (2003), Mercosul e a Integração Regional (2010), Guia dos Arquivos Americanos sobre o Brasil (2010) e O Dissenso de Washington (2011), este último publicado nos Estados Unidos em 2014. Mas não é só. Também Mercado comum europeu, trabalho de aluno do 1º ano das Arcadas do Largo de São Francisco, texto agraciado em 1960 com o Prêmio Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo e publicado na Revista da Faculdade de Direito da USP, volume 55, pp. 434-466, em 1960. Relendo o Um diplomata a serviço do Estado, antes de completar estas palavras de recepção ao meu amigo Rubens, tomo plena consciência de sua objetividade, sinceridade, franqueza, mas também discrição e serenidade ao se expressar. Como diplomata e homem de bem. Há trechos nesse livro que me comovem. Eu ficaria horas e horas a falar do quanto me encanta tê-lo em minhas mãos. Limito-me, no entanto, a dizer que o quanto leio em suas páginas me comove muito, muito. Uma alusão ao meu bom amigo Carlos Lessa --- com quem convivi nos gabinetes de Dilson Funaro na Secretaria do Planejamento e na Secretaria da Fazenda, na UNICAMP e pelo BNDES --- outra ao Ministro Evandro Lins e Silva --- de quem também me orgulho por ter sido amigo --- em cujo gabinete o Rubens trabalhou em Brasília. Evandro, que depois integrou o Supremo Tribunal Federal sem que, lastimavelmente, lá tenhamos sido contemporâneos. Inúmeras, inúmeras referências a duas figuras humanas que admiro, o Professor Fernando Henrique Cardoso e meu querido confrade e amigo desde a primeira metade dos anos cinquenta, Celso Lafer. Quase ao fim desta saudação ao confrade que vem aos nossos braços, lembro os que o antecederam em sua cadeira, cadeira número dez: Eduardo Guimarães, Paulo Setúbal, Gustavo Teixeira, Afonso Schmidt, Edmundo Vasconcelos e Paulo Nogueira Neto. Agora, de verdade, dois Paulos --- ele, Nogueira Neto, e aquele sem fim, Bomfim --- dois Paulos aqui estão a nos sorrir, fraternalmente. Permitam, após mais estas expansões, que eu envie um afetuoso abraço à Maria Ignez, a esposa do Rubens, que ali está. Seu pai, Sérgio Corrêa da Costa, membro da ABL, foi embaixador do Brasil na Inglaterra, na ONU e nos Estados Unidos. E seu avô, o formidável Osvaldo Aranha, gaúcho de verdade --- como eu! --- de quem meu pai era amigo. Embaixador do Brasil em Washington e Ministro da Justiça, da Fazenda e das Relações Exteriores. Nascido no Alegrete, onde para chegares --- como diz uma canção da nossa terra, terra dele e minha ---, basta que sigas o rumo do teu próprio coração. Inúmeras circunstâncias nos unem, o Rubens e eu. As Arcadas, a Tabacaria do Beto nos nossos sábados em São Paulo, inúmeros jantares em sua casa e encontros em Paris e Tiradentes! Agora, contudo, há mais uma razão a nos juntar. A mim coube a alegria, a felicidade de saudá-lo. Por conta disso --- repito --- há mais uma razão a nos juntar por longo tempo! De verdade, pois tão cedo não daremos lugar a uma ou outra vaga cá na nossa Academia! A ele --- a você! --- e a todos que por aqui estão, nesta e em outras esferas, lembrando aquela canção do Gilberto Gil, "aquele abraço"! Enorme abraço afectuoso --- com c! ---, como se dizia antigamente! voltar |
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