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Acadêmico: José Goldemberg "Poucas são as academias que têm em seus quadros agraciados com o Premio Nobel. Escolhido entre 1.400 cientistas de todo o mundo, José Goldemberg recebeu o Premio Planeta Azul que corresponde ao Premio Nobel das ciências do meio ambiente."
Saudação à mesa, acadêmicos e todos os presentes. Poucas são as academias que têm em seus quadros agraciados com o Premio Nobel. Escolhido entre 1.400 cientistas de todo o mundo, José Goldemberg recebeu o Premio Planeta Azul que corresponde ao Premio Nobel das ciências do meio ambiente. Este, portanto, é um dia de festa e um dia histórico para a Academia Paulista de Letras. José Goldemberg é um dos talentos mais ilustres da nação, um pesquisador de enorme reputação no campo da física, um professor adorado por alunos e ex-alunos e um servidor público que ocupou os mais altos cargos do Brasil, tais como Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, Secretário do Meio Ambiente do Brasil, Ministro da Educação, Reitor da Universidade de São Paulo e Presidente da CESP, sem contar suas atividades como pesquisador e docente em centros de grande prestígio no exterior como é o caso das Universidades de Princeton, Stanford, Toronto, Paris, Genebra, Viena e tantas outras. A folha de serviços de José Goldemberg é vastíssima. Como cientista, Goldemberg é um escritor profícuo. São centenas de artigos, capítulos e livros que repercutem até hoje no mundo da física e do meio ambiente. Na juventude, ele começou estudando química. Mas, já no primeiro ano, se cansou de olhar o tempo todo para as moléculas porque seu real interesse era saber o que estava dentro delas e dentro do próprio Universo. E partiu para a física. Caros colegas, prezados amigos aqui presentes. A chegada de José Goldemberg à Academia Paulista de Letras é realmente um grande acontecimento. Por consagradora eleição, Goldemberg foi escolhido para a Cadeira 25, que tem como patrono o grande historiador Visconde de Porto Seguro, e que foi recentemente ocupada por outro cientista de estatura mundial Crodovaldo Pavan, geneticista brilhante, professor da Universidade de São Paulo e de várias Universidades do exterior e membro da Academia de Ciências do Vaticano. Essa é a tradição da nossa Academia ter sempre em seus quadros um cientista de reconhecida importância para a sua ciência e também para a humanidade. José Goldemberg preenche rigorosamente esse dois critérios. No campo da física ele contribui até hoje com expressivos avanços teóricos. No campo aplicado, é impactante o seu papel na formulação de programas de ação na área de energia hidrelétrica, do álcool, do vento, do sol, do xisto e outras. Igualmente importante é a sua contribuição para a redução do aquecimento global. Para ele, o cientista só completa a sua missão quando coloca o resultado de suas descobertas a serviço do ser humano. É isso que ele sempre fez por meio de sugestões e posições claras e conseqüentes. Goldemberg foi um dos primeiros físicos a reagir firmemente contra a exploração desordenada da energia nuclear no Brasil que dispõe de um colossal potencial hidrelétrico para ser explorado. Diz ele, "raras são as nações do mundo que desfrutam desse privilegio". Ao mesmo tempo, completa, "poucos são os países que descuidam tanto do planejamento energético como o Brasil". Sem rodeios, Goldemberg critica as decisões que são tomadas no campo da energia com base em promessas eleitorais quando deveriam fazer parte de programas voltados para gerações. Parafraseando Gabriel Garcia Marques ele define os atuais apagões como crônicas de uma morte anunciada. Goldemberg não se cansa de dizer que a história está repleta de exemplos em que escolhas erradas no campo energético comprometeram o futuro das nações. Suas criticas em relação à energia nuclear se fortaleceram diante dos pavorosos desastres com as usinas de Chernobil, Three Miles Island e mais recentemente Fukushima. Com singular veemência ele ergueu sua voz contra a idéia de alguns militares nos anos 70 que pretendiam produzir no Brasil - pasmem - a bomba atômica. Ao saber da desatinada intenção, reagiu imediatamente dizendo: "No momento em que o Brasil fizer um artefato nuclear, a Argentina fará o mesmo. Teremos uma proliferação incontrolável na América do Sul e, com isso, perderemos a paz sem ter sequer entrado na guerra". Com igual objetividade, Goldemberg analisa a exploração do pré-sal, dizendo: "Trata-se sem dúvida de uma fonte importante de energia para o Brasil e para o mundo. Todavia, é preciso lembrar que vivemos numa época em que toda a indústria do petróleo está sob vigilância cerrada. O mundo busca energias menos poluentes do que o petróleo". Ao lado de uma sólida formação acadêmica, muito cedo em sua carreira, Goldemberg construiu importantes pontes entre a pesquisa e a sociedade e isso se intensificou quando dirigiu o Instituto de Física e a própria Universidade de São Paulo. Nada mais acertado. Ele sabe que a ciência traz grandes benefícios para os seres humanos e grandes desafios para o meio ambiente. Por isso, Goldemberg sempre viu os cientistas cercados de uma responsabilidade social elevada e da qual nunca se esquivou. Como promotor das energias limpas, Goldemberg se engajou de corpo e alma na formulação do Programa do Pró-Álcool e até hoje acompanha com entusiasmo os avanços realizados. Senhores e senhoras. Faço uma pausa para falar do José Goldemberg visionário. Recentemente ele deu um alerta para as famílias não jogarem no lixo os medicamentos não utilizados porque indo para os esgotos e os rios, os antibióticos, os hormônios e os produtos anti-colesterol esterilizam e matam os peixes. Ele é assim mesmo. Com igual facilidade e competência, Goldemberg vai da energia nuclear à piscicultura. As manifestações dos visionários só ganham força com o passar do tempo. É bem provável que as descobertas de Copérnico, Galileu e Newton foram vistas como irrelevantes no seu tempo, expressas em frases assim: Como pode a terra não estar no centro do Universo? Como pode haver uma força invisível que atrai os corpos? Como é possível que a luz, que é branca, carregue dentro si todas as demais cores? Nada disso fazia sentido para o cidadão comum. Os séculos vieram dar razão aos visionários. Dou mais um exemplo da visão de José Goldemberg. Há anos ele luta contra o uso desregrado do chuveiro elétrico cujo consumo de eletricidade é excessivo. Para ele, o Brasil precisa produzir placas para captação de energia solar em cada uma das residências para aquecer a água e acionar os aparelhos de ar condicionado. Os países avançados já fazem isso e nenhum deles tem tanta irradiação solar como o Brasil. Afinal, o sol existe há 5 bilhões de anos e brilhará por mais 6 bilhões de anos. Temos assim um bom tempo para contar com a sua energia e chegar a soluções adequadas, inclusive econômicas. Senhor Presidente. Veja com que responsabilidade José Goldemberg antecipa soluções de longo prazo para os problemas de curto prazo. É isso que levou a Revista Time a elegê-lo, em 2007, como um dos principais líderes e visionários do mundo. O mesmo reconhecimento veio da Universidade de Tel Aviv ao criar uma Cátedra de Física Atmosférica com o nome de José Goldemberg. Ali como aqui na Academia Paulista de Letras, José Goldemberg estará imortalizado. Como Ministro da Educação e Reitor da Universidade de São Paulo, Goldemberg modernizou as administrações daquelas entidades, dando ênfase na valorização dos professores com base no princípio do mérito. Para ele, mérito é religião. Goldemberg sempre valorizou o mérito, em tudo o que fez ou administrou. Como homem humilde e respeitoso do dinheiro público, ele nunca teve apego a cargos, e sim aos encargos, e faz questão de ser julgado por aquilo que faz e não pelos cargos que ocupa. É um grande brasileiro. ********* Prezados amigos aqui presentes. Falei até aqui das realizações profissionais do novo acadêmico. Há uma dimensão em sua pessoa que merece ser destacada, por ser rara nos dias atuais. Em todos os cargos públicos por que passou, Goldemberg deixou a marca de uma sólida integridade moral. Tudo o que fez foi feito com inteligência e trabalho. Muito trabalho. Sempre buscando o bem feito e não a gloria. Para citar uma frase que ele conhece bem, porque é de Albert Einstein, lembro que o único lugar aonde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário... Se José Goldemberg se destaca pelo brilho de uma carreira de reconhecimento mundial, Tatiana Belink sua antecessora na Cadeira 25 fica no mesmo patamar. Com mais de 200 livros publicados no campo da literatura infantil ela deixou uma rica folha de serviços à educação brasileira. Para a Academia Paulista de Letras ficou um legado de enorme respeito e um sentimento de profundas saudades. Péricles Eugenio da Silva Ramos, poeta dos mais brilhantes da Geração de 45 ocupou a mesma Cadeira como sucessor de Sergio Milliet, notável escritor e que muito tem a ver com o nosso homenageado, pois participou da criação da Universidade de São Paulo, onde José Goldemberg está há 68 anos! Uma vida. Uma bela vida. ******** José Goldemberg tem uma vitalidade invejável. Com mais de 80 anos, ele pode ser visto todas as manhãs no Clube da Hebraica em São Paulo onde, com a justificativa de exercitar os músculos, está ali a enriquecer sua alma. À tarde vai ao Instituto de Física da Universidade de São Paulo, onde estuda, publica e leciona. O que posso dizer de sua personalidade? Goldemberg é um homem sereno, amoroso, de bem com a vida, confiante no futuro, amante da juventude, contente, otimista, alegre. E de onde vem tanta alegria? Por trás de seus conhecimentos e de suas realizações está como sempre esteve a amada Terezinha, permanentemente a postos não apenas para comemorar os momentos de gloria como principalmente para apoiar o marido nas horas difíceis. E junto com ela está seu outro amor, a irmã Rosa, mulher culta e altiva, que desde cedo apreendeu a falar direto ao coração do José. A Academia Paulista de Letras saúda Terezinha e Rosa que aqui estão presentes. Seus filhos, Clovis, Ricardo, Sergio e Deborah, todos brilhantes, sempre receberam e deram ao pai o caloroso afeto que só existe nas famílias bem formadas. Igualmente ligados e orgulhosos do avô estão os netos Diana, Flora, Henrique, Eduardo e José Guilherme e, recentemente, a Pauline - a xodozinha dos avós. Com uma família como essa, não há como não ser feliz. ******* Caros acadêmicos. O destino fez um físico nuclear suceder uma escritora de literatura infantil. São saberes aparentemente distantes. É só aparência porque vejo uma interessante proximidade entre o mundo da física e o mundo da literatura. Física e literatura brotam da inteligência, da criatividade e da intuição. E, num certo sentido, as duas se ajudam mutuamente. Com freqüência, os físicos se apóiam nas analogias e metáforas da linguagem comum para melhor transmitir o que descobrem. E os prosadores e poetas se inspiram nas categorias físicas para dar asas à sua imaginação. Sem se dar conta do uso das mencionadas analogias e metáforas, Newton falava em "feixe de luz" e "fluxo luminoso". Faraday tratou do "fluxo de energia". Maxwell estudou as "ondas eletromagnéticas". Benjamin Franklin formulou teorias sobre a "corrente elétrica". Max Planck codificou a "teoria das bandas". Yves Chauvin, Robert Grubbs e Richard Schock descreveram a "troca de pares na dança dos átomos". Einstein falava em um "pacotinho de energia" para se referir à força do átomo. Vários são os termos do cotidiano que dão apôio às teorias físicas como é o caso das expressões partículas, energia viva, energia morta, aceleração, modelo e até lixo atômico. Em suma, é com base nas ferramentas da linguagem que os físicos explicam a formação e os movimentos do Universo. Por outro lado, os amantes da literatura adoram cantar em prosa e verso os fenômenos estudados pelos físicos como o Universo, a Terra, o Mar, a Lua, as "estrelas". Ah as estrelas! Como inspiram os poetas! Recordo Fernando Pessoa que, com sua enorme sensibilidade, escreveu o belo poema "Tenho dó das estrelas" revelando o seu sentimento de piedade em relação a todas as estrelas que, solitárias e espalhadas no Céu, brilham o tempo todo, sem se cansar e sem reclamar. A lista das poesias que cantam as estrelas é infindável. Manuel Bandeira escreveu a Estrela da Manhã. Machado de Assis deixou-nos a Estrela da Tarde. Em Olavo Bilac encontramos simplesmente As estrelas. Cassiano Ricardo dedicou um poema à maior de todas as estrelas sua mãe (Elegia para a minha Mãe). E Paulo Bomfim, no livro O Contador de Minutos, com graça e elegância, escolheu as estrelas para enaltecer o princípio de economia e parcimônia, tão apreciado pelo nosso homenageado que defende o bom uso da energia. Diz Bomfim: "O céu é mais conservador do que a terra. Todas as tardes um acendedor de lampiões ilumina as estrelas". Por isso, caro José Goldemberg, você está em boa companhia e como estrela de primeira grandeza abrilhantará ainda mais a galáxia da Academia Paulista de Letras. Você verá que nós formamos uma roda de amigos que cultivam a diversidade de pensar e de agir. Portanto, sinta-se em casa. Esta Academia o recebe de braços abertos. Obrigado. voltar |
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