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Acadêmico: Lygia Fagundes Telles
Com a premiação, a Fundação Conrado Wessel faz hoje este heróico convite ao jovem e ao velho: “Me leia, não me deixe morrer!”
Sim, a palavra escrita é “a negação da morte”.
Minhas amigas e meus amigos,
Eis que esta escritora está sendo premiada por essa importante Instituição, Conrado Wessel, neste momento em que lutamos bravamente com a palavra escrita e que segundo Ernest Becker “é a negação da morte”.
Eis aí: a profissão de escritor exige, segundo ainda o ensaísta, a crença e a esperança de que as coisas que o homem cria na sociedade são de valor e sentido permanentes enfim, coisas que vão resistir ao medo maior do homem e que é o medo da morte. Lembrar que o polvo, quando perseguido no mar solta uma tinta negra para que a água em redor fique turva e assim, camuflado, ele possa então fugir. A negra tinta do medo que é viscosa, morna. Mas o escritor precisa se ver e ver o próximo na transparência da água. Tem que vencer o medo para escrever sôbre esse medo. E resgatar a palavra através do amor, a palavra que permanece como “a negação da morte”.
Oportuno ainda lembrar que a crise maior desta sociedade moderna está precisamente nisto, os jovens e os velhos não se sentem mais heróis no plano da ação. Vemos tantos demissionários do heroísmo nas Universidades. Demissionários do heroísmo nos negócios e nas carreiras, demissionários do heroísmo na política!
Daí esta crise que o nosso país enfrenta. Ouvi isto de um jovem: “Bebo e já entrei nas drogas pesadas, mas também a minha mãe é uma alienada, já fez plásticas mil e é uma consumista tão desesperada que já acabou dormindo num shopping...”
Com a premiação, a Fundação Conrado Wessel faz hoje este heróico convite ao jovem e ao velho: “Me leia, não me deixe morrer!”
Sim, a palavra escrita é “a negação da morte”.
A vocação e a paixão. Machado de Assis faz também o convite heroico: acreditar na paixão e na vocação porque “Esta é a glória que fica, eleva, honra e consola”.
Lygia Fagundes Telles
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