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TICO-TICO
Acadêmico: Paulo Bomfim
Em suas motocicletas possantes, ou nas baratinhas último tipo, estava sempre competindo em audácia com os "Bororós" da família Amaral. Inspirou paixões avassaladoras, amou e foi amado pelas moças mais belas da época. A todas tia Nicota advertia: "José não nasceu para se casar." Esse primo inesquecível viveu seus 40 anos de vida a custa dos cafezais que produziam para que ele não precisasse trabalhar. No brasão da família, dizia ele, deveria constar um terço, um baralho e uma saia de mulher.
Na sede do antigo Automóvel Club, na Rua Libero Badaró, o retrato de José Pinto Alves, de autoria de Baloni, fitava com ironia as gerações de sócios que se sucediam. Ele e "Pimpolho" de Sousa Queirós assinalam uma galeria de pessoas raras.

O apelido "Tico-Tico" veio do rosto pintalgado de sardas igual ao ovo daquele passarinho. Elegante e exótico, esse primo, filho de meus tios Nicota e Valdomiro Pinto Alves, juntamente com seus amigos Fernandinho Prestes e Luís Antônio Fonseca, fizeram da cidade seu parque de diversões.

Lembro-me, quando pequeno, de acordar à noite, com tropel no cimento da casa de meu avô, onde estava morando. O primo havia desatrelado e solto o cavalo de uma carrocinha de padeiro dentro dos muros da casa dos tios.

Na década de 20, foi estudar na Alemanha, e como estava demorando para voltar, tio Valdomiro incumbiu seu irmão Carlos, de trazê-lo de volta. Ao chegar a Berlim, Carlos se apaixona pela pintora Mussia, jovem baronesa russa fugitiva dos bolcheviques que mataram seu pai, almirante da marinha do Czar. Casa-se com ela e volta para São Paulo. Mussia traria depois a irmã Nina, que se casaria com Tácito de Almeida, irmão de Guilherme de Almeida, participante da Semana de Arte Moderna e um dos fundadores da Escola de Sociologia e Política.

A figura de Carlos Pinto Alves foi bem retratada por Tristão de Athaíde, que fala desse aristocrata de hábitos franciscanos, amigo de Murilo Mendes, Ismael Nery, Gustavo Corção e Roberto Alvim Correia.

"Tico-Tico", regressa também ao Brasil, desembarcando no porto de Santos acompanhado de um secretário e de um macaco amestrado. O alemão chorava tanto com saudades da mulher que tio Valdomiro acabou mandando buscá-la.

Certa vez, na saída de um espetáculo de gala no Teatro Municipal, ele e Fernandinho Prestes, filho de Júlio Prestes, resolveram apostar corrida à Ben Hur, em dois carros da limpeza pública puxados a burro. Diante de uma platéia de jovens da alta sociedade, trajando a rigor, os dois dispararam da Praça Antônio Prado ao Largo Paissandu.

Quando o ioiô e a raquete com elástico que segurava uma bolinha, chegaram a São Paulo, "Tico-Tico" podia ser visto na Praça do Patriarca, praticando eximiamente os dois jogos.

Em suas motocicletas possantes, ou nas baratinhas último tipo, estava sempre competindo em audácia com os "Bororós" da família Amaral.

Inspirou paixões avassaladoras, amou e foi amado pelas moças mais belas da época. A todas tia Nicota advertia: "José não nasceu para se casar."

Esse primo inesquecível viveu seus 40 anos de vida a custa dos cafezais que produziam para que ele não precisasse trabalhar. No brasão da família, dizia ele, deveria constar um terço, um baralho e uma saia de mulher.

No dia de sua morte, homens elegantes, chorosas damas enlutadas, prostitutas, boêmios e garçons acompanharam seu enterro no Cemitério da Consolação. "Tico-Tico" deixou o que sobrou de sua fortuna para o albergue noturno.



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