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![]() Esses pigmeus continuam a existir. Mas homens como Luís Arrobas Martins não existem com a abundância com que a Providência costuma castigar povos que se preocupam exclusivamente com a matéria e se afastam das virtudes evangélicas
A conjuração dos pigmeus A inveja e o despeito são companhias frequentes de espíritos inferiores. Aqueles que, em lugar da luta renhida para superar suas deficiências, prefere lançar dardos contra os que se destacam. Isso é mais comum do que possa parecer. Acontece com inúmeras pessoas e ocorreu na vida de um homem público de rara expressão, chamado Luiz Gonzaga Bandeira de Melo Arrobas Martins. Nasceu em Jaboticabal, em 1920 e veio estudar no Liceu Franco Brasileiro, destacando-se como um dos mais aplicados alunos. Cursou as Arcadas durante o Estado Novo e a II Guerra Mundial e era, segundo Fernando Góes, um ser à parte da população estudantil. Cultivou fama de latinista exímio, leitor sem tropeços as obras de Vergílio e de Horácio. Também conquistou espaço como o melhor orador da época, destacando-se entre os acadêmicos da São Francisco, mas também dentre os mais famosos daquela fase. Leitor guloso, vivia entre livros. Consta que Antônio Cândido, seu companheiro de turma, era por ele influenciado para leituras ainda não desbravadas por aquele que seria um dos mais famosos intelectuais pátrios. Como intelectual, como orador, como erudito, sua participação em favor da democracia iniciou-se nos bancos acadêmicos e integrou o Partido Libertador, que veio a presidir. Quando tomou posse na Academia Paulista de Letras, era válido afirmar: “Nunca fui indiferente à sorte política do meu país, menos ainda um ausente e nunca me resignarei a sê-lo, pois o interesse pela coisa pública é o mais elementar dever do cidadão”. Na luta pela redemocratização do Brasil, em plena ditadura, foi o redator do “Manifesto à Nação”, lançado pelos estudantes em 1º de novembro de 1943, logo após a prisão der estudantes, professores e políticos. Dele o texto integral, do qual se extrai, por seu significado, a parte que segue: “Nós, os estudantes de Direito de São Paulo, temos como democrático o Estado em que os cidadãos intervêm diretamente na investidura do poder, elegendo seus governantes e fiscalizando-os eficientemente, por intermédio de seus representantes no Parlamento e pelo mais amplo e irrestrito uso do direito de crítica, através da liberdade de manifestação do pensamento, em todas as suas formas, pela palavra escrita ou falada. Temos como democrático o Estado em que todos os cidadãos gozam dos direitos fundamentais do homem e podem organizar a opinião pública em partidos políticos. Achamos que só existe República onde os governantes são eleitos para mandatos breves e pré-fixados”. A autoria do Manifesto consagrou a sua posição de líder autêntico. Algo que calou fundo no coração de seus amigos, como José Bonifácio Coutinho Nogueira, quando da inauguração da Escola Estadual “Dr. Luís Arrobas Martins”, em 31 de agosto de 1977, que mencionou a missiva recebida do homenageado, quando recém-formado na Faculdade de Direito. Ela dizia: “Reservemos a colaboração preciosa do povo para as ocasiões-chaves, quando tivermos alguma coisa substancial para dizer-lhe ou pedir-lhe, quando nos pudermos apresentar diante dele como mocidade que pensa dentro das largas fronteiras sociais e nacionais e não como crianças que se divertem com bombinhas e fogos de artifício. Só devemos levar ao povo os problemas que ele sente e compreende, para mostrar-lhe que reagimos como parte desse povo e não como rapazes desvairados pelos sonhos da idade ou desorientados por doutrinas livrescas, mal assimiladas. Não o incomodemos com questiúnculas domésticas ou diabruras inconsequentes de meninos peraltas. Os fogos de artifício agradam um instante a vista e desaparecem. Guardemo-nos para os grandes momentos que possam pesar decisivamente na evolução nacional. Nunca percamos um desses”. E tal recomendação foi por ele mesmo seguida durante toda sua curta existência. Que não foi poupada por intrigas, por traições, por mesquinharia de inescrupulosos, que infelizmente chegam a ocupar cargos e exercer funções públicas. Depois de ter servido fielmente aos governos Abreu Sodré e Paulo Egydio Martins, Arrobas Martins não suportou a maledicência e o nível inferior das manobras que procuravam intriga-lo e se exonerou. Não mais voltou à vida pública. Esses pigmeus continuam a existir. Mas homens como Luís Arrobas Martins não existem com a abundância com que a Providência costuma castigar povos que se preocupam exclusivamente com a matéria e se afastam das virtudes evangélicas. Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 17 10 2025 ![]() ![]() |
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