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MEIO AMBIENTE SEM IDEOLOGIA
Acadêmico: Michel Temer
O objetivo deste escrito é revelar que o diálogo, sem radicalismos, pode unir o País em defesa do meio ambiente. Aliás, como tudo

Meio ambiente sem ideologia

Meio ambiente físico é vida. Sua preservação é para as atuais e as novas gerações. É obrigação de todos os brasileiros, sem exceção.

Anoto, contudo, algumas realidades. A primeira delas é que o tema foi ideologizado. Alardeia-se que a chamada “esquerda” é a favor da preservação e a chamada “direita”, em particular, agricultura e agronegócio, são pela sua destruição. É falso.

Agricultores e ambientalistas devem trabalhar em conjunto. Sem divergências. Foi, aliás, o que fiz nos meus 963 dias de governo. Os ministros da Agricultura e do Meio Ambiente conversavam permanentemente para que não houvesse nenhum mal-estar entre essas áreas. E não houve. Muitas dessas reuniões eram feitas na minha sala para que não houvesse nenhuma faísca entre esses setores. Não se permitiu a ideologização da matéria. Tanto isso é verdade que o agronegócio prosperou ao mesmo tempo em que avançaram as reservas ambientais. Basta relembrar que ampliamos a Chapada dos Veadeiros no Centro-Oeste, de 60.000 para 240.000 hectares. Um aumento de quatro vezes da área ambiental.

Fizemos a maior “reserva marinha” que o mundo conhece, realizada na região de Vitória-Trindade e no arquipélago de São Pedro e São Paulo. O País tornou-se, com essa medida, um dos líderes globais na proteção do bioma marinho, passando de 1,5 para 26 de suas águas jurisdicionais protegidas. Corresponde a um espaço equivalente aos territórios de Minas Gerais e Espírito Santo juntos. A proteção das águas marinhas é fundamental porque as algas produzem oxigênio e não o consomem. Diferente até da floresta, que produz, mas consome.

Também transformamos parte dos arquipélagos de Trindade e Martin Vaz, no Espírito Santo, e de São Pedro e São Paulo, em Pernambuco, em duas áreas de proteção ambiental. Lançamos em junho de 2017 o programa Plantadores dos Rios para proteger e recuperar nascentes e cursos de água. A iniciativa promovia a conexão entre proprietários rurais de áreas com nascentes e pessoas interessadas em apoiar a recuperação. Esse programa foi uma das oito iniciativas globais convidadas a participar do Fórum de Inovações para o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável e Ação Climática, promovido pela ONU durante a 23.ª Conferência das Partes sobre a Mudança Climática (COP-23). Também se verificou a criação do Refúgio da Vida Silvestre e da Área de Proteção Ambiental (APA) da Ariranha Azul. Para desprezar a ideologização, houve ato que converteu o valor das multas ambientais, que chegaram a R$ 2,5 bilhões para o projeto de recuperação da bacia do Rio São Francisco, além das ações de adaptação das mudanças climáticas por meio da convivência sustentável com a semiaridez da bacia do Rio Parnaíba.

Faço este relato inicial para revelar que o diálogo entre os setores é o que permitiu as medidas providenciadas, em que eles, tidos como oponentes, juntaram-se para a prosperidade do ambiente.

Uma segunda anotação é a de que pouco se fala desses avanços. E aqui vai uma terceira nota: meio ambiente para os europeus e norte-americanos é apenas a floresta amazônica. E essa visão equivocada influencia, muitas vezes, a ideia dos nossos nacionais e os impede de enaltecer o que já foi feito no País. Não há dúvida de que a floresta amazônica merece preservação, mas por meio de medidas ditas “sustentáveis”. Ou seja, não é possível ignorar que os brasileiros da região amazônica não possam sobreviver com a exploração, mais uma vez “sustentável” daquelas áreas, ou seja, desenvolvimento econômico respeitando o meio ambiente, mas com crescimento social.

O Brasil é, de alguma maneira, berço do meio ambiente preservado. Não foi sem razão que, já em 1992, verificou-se conferência mundial na cidade do Rio de Janeiro. Não foi sem propósito que em 2018 realizamos, em Brasília, o Fórum Mundial da Água por meio dos Ministérios do Meio Ambiente e de Relações Exteriores. E continuará sendo assim, agora que o governador do Pará sedia a COP-30, em Belém, em novembro deste ano.

Tenho acompanhado o trabalho do governador para bem receber os visitantes. Mais do que isso, tem sido uma fórmula para que ele, governador, dê palestras e entrevistas enaltecendo a indispensabilidade de um meio ambiente saudável.

Não ignoro que há movimentos e momentos que rejeitaram essa ideologização. Assim foi com o Código Florestal, que criou o Cadastro Ambiental Rural como, mais adiante, a valorização monetária de florestas e terras por meio do crédito de carbono.

O objetivo deste escrito é revelar que o diálogo, sem radicalismos, pode unir o País em defesa do meio ambiente. Aliás, como tudo. Diálogo de ideias, em vez de disputas pessoais ou ideológicas, é o que resolve os problemas nacionais. Todos os brasileiros, de todas as áreas ou mesmo ideologias, devem unir-se em favor de um Brasil melhor para que sejamos exemplo de meio ambiente preservado para o mundo.

Publicado no jornal O Estado de S. Paulo/Opinião, em 07 07 2025



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