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Acadêmico: Antonio Penteado Mendonça O setor de seguros não tem recursos para indenizar todos esses danos, principalmente porque eles acontecem em tempo cada vez mais curto.
As mudanças climáticas vão restringir os seguros As tempestades que atingem impiedosamente o Sul do Brasil, com ênfase no Rio Grande do Sul, são um primeiro retrato do que devemos ter pela frente ao longo dos próximos anos. Os eventos se tornarão cada vez mais frequentes e seus danos serão cada vez mais severos. Tradicionalmente, o seguro se baseia na premissa de que os danos mais frequentes são os de menor valor e os mais severos acontecem mais espaçadamente. A velha e boa regra está em vias de mudar. O que se viu ao longo de 2023 ao redor do planeta mostra o contrário. Eventos mais frequentes estão causando danos mais severos. Para quem quiser, cito, a título de exemplo, os incêndios florestais que devoram regularmente a Califórnia, Portugal, Espanha, Grécia, Itália, etc. A lista de nações e regiões atingidas não para de crescer, com o Brasil assumindo lugar de destaque, com os incêndios na Amazônia e no Pantanal. Mas não são apenas os incêndios que cobram um alto preço. Da mesma forma que o Sul do Brasil, imensas áreas na Europa, na Ásia e em outras nações americanas são inundadas por tempestades, vendavais, furacões e tufões, que levam de roldão o que encontram pela frente. O resultado disso é que a atividade seguradora internacional já não tem – e cada vez terá menos – capacidade para fazer frente aos eventos de origem climática que sacodem o planeta e comprometem a qualidade de vida do ser humano. Recentemente, o Estado da Flórida, nos Estados Unidos, deixou de ter seguro para furacões e outros eventos de origem climática. Até agora, Miami não tinha cobertura para esses riscos; daqui para frente, a restrição foi expandida para todo o Estado. E a explicação para ela é simples: pela sua magnitude, as seguradoras não têm capacidade para fazer frente aos danos decorrentes de eventos dessa natureza que atinjam a Flórida. É importante analisar como o setor funciona para entender o que está acontecendo e que deve afetar cada vez mais territórios, que, em função do aumento dos eventos de origem climática, também ficarão sem cobertura de seguro. A atividade seguradora é das mais interligadas do mundo. As seguradoras e resseguradoras, pelas tipicidades do negócio, são ligadas por uma vasta rede de vasos intercomunicantes, que dividem os riscos assumidos por empresas espalhadas ao redor do mundo. Esta característica fazia com que as perdas sofridas numa determinada região fossem compensadas pelos seguros vendidos em outras partes que não eram atingidas pelo mesmo tipo de evento. Assim, o mutualismo e a capilaridade do seguro eram capazes de manter o equilíbrio das contas do setor. Mesmo os eventos com grande capacidade de destruição, em função de sua baixa frequência, eram suportáveis e podiam ser segurados. De algum tempo para cá, essa realidade mudou completamente. Incêndios florestais devassam ao mesmo tempo, ou em sequência, Estados Unidos, Canadá, Europa, Ásia e América do Sul. Tempestades, furacões e ciclones atingem as mais variadas regiões do planeta. E, para completar, pandemias como a da Covid19 ameaçam entrar em cena. O resultado é que o setor de seguros não tem recursos para indenizar todos esses danos, principalmente porque eles acontecem em tempo cada vez mais curto. A única forma das seguradoras se protegerem é deixar de aceitar determinados riscos, que, pela sua natureza, terão maior frequência e causarão mais danos. Publicado no site do SindsegSP em 2 11 2023 voltar |
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