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A CEIFADEIRA CONTINUA
Temos de conviver com despedidas. A ceifadeira continua a sua missão de nos privar dos seres amados

A ceifadeira continua

Há pouco, lamentava as partidas dolorosas de amigos tão queridos, que deixam esta esfera e partem para a eternidade. Poucos dias depois, recebia a triste notícia da morte de Sérgio do Amaral Westin Cabral de Vasconcelos. Foi meu colega no curso científico do Colégio Divino Salvador e era muito erudito. Dominava exatamente as matérias em que eu capengava: Matemática, Física e Química.

Àquela altura, eu não tinha notícia de quem fora Tarsila do Amaral, com cujos familiares vim a conviver na capital. Anna Maria Martins, a sobrinha que veio a se casar com um dos ex-maridos de Tarsila e que foi imortalizada no já clássico "Um só coração", série que Maria Adelaide Amaral fez para a Globo e que retratou a São Paulo de 1922 a 1954.

Também convivi com amigo e colega Thales Estanislau do Amaral Sobrinho, integrante dessa família tão famosa e tradicional. O pai de Sérgio, o Engenheiro Philippe Westin Cabral de Vasconcellos foi um amigo também estimado. Fez várias visitas a Barretos, minha primeira comarca e, além de um estudioso agrônomo, era dono de excelente prosa.

Sérgio se foi. Deixa viúva Maria Cecília Araújo, cujo pai, Dr. Ramiro Araújo, era nosso médico no Ginásio e Colégio Salvatoriano. Mas ao verificar a foto daquele científico - entre 1961 e 1963 - vejo como se foram outros colegas de classe. Na lembrança oficial - era uso à época - estão Mário Augusto de Oliveira Bocchino, José Carlos Le Sueur de Moraes, Dalberto Mário Giachetta e Flávio Vicente.

Todos eles também já se foram. Lembrei-me de que Le Sueur era parente de Joan Crawford, cujo nome verdadeiro era Lucile Le Sueur, prima-irmã de Yvonne Le Sueur de Moraes. Quando a estrela veio ao Brasil, houve uma recepção no Othon Palace Hotel, em São Paulo e eu acompanhei a família. Joan Crawford foi muito simpática e convidou José Carlos para trabalhar na Pepsi, que era uma de suas empresas.

Giaccheta era meu colega desde a Escola Paroquial Francisco Telles. Casou-se com Sônia Zonaro e seu filho, André Zonaro Giacchetta, é um dos mais respeitados advogados em São Paulo.

Nem assimilara ainda a morte de Sérgio Westin e venho a saber que Jundiaí também perdeu Reinaldo Ferraz de Barros Basile.

Há muito a ser dito sobre Reinaldo. Um homem comprometido com a transformação do mundo, empenhado em promover as melhores causas, inteligente e culto, mas - acima de tudo - um cultivador das mais caras tradições jundiaienses.

Advogou com garra e ética, lecionou direito - fomos colegas de magistério nos áureos tempos - e atuou no radiojornalismo durante nada menos do que sessenta e um anos. Minha família deve ao Reinaldo as mais generosas mensagens, veiculadas em seus programas ao vivo e que emocionavam minha mãe, sua fã ardorosa.

Reinaldo foi vereador exatamente no período em que Walmor Barbosa Martins era o Prefeito de Jundiaí pela primeira vez - 1969 a 1972. Sua esposa, Lisete, e os filhos César, Cintia e Cássio, devem se orgulhar, de verdade, pelo marido e pai. E sei que era também um avô extremoso.

Essas mortes repercutem e calam fundo em nossa alma. Quando transmiti à nossa amiga comum Isabel Cristina Penteado, que hoje mora no Rio, mais uma defecção em nosso grupo, ela me disse: "O mundo fica mais triste e o palco do teatro da vida um pouco menor, quando aqueles que fizeram parte da nossa juventude saem de cena".

Tem toda razão. Temos de conviver com despedidas. A ceifadeira continua a sua missão de nos privar dos seres amados.

Publicado no Jornal de Jundiaí, em 22 06 2023



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