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Acadêmico: José Pastore A Embrapa tornou o Brasil referência mundial no agro. Isso num tempo em que várias instituições nasceram e morreram com igual velocidade.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) completou 50 anos. Foi uma solenidade emocionante na qual três dos seus criadores foram homenageados: o ex-ministro da Agricultura, professor Luiz Fernando Cirne Lima, o brilhante agrônomo e economista Eliseu Alves e eu, que coordenei o grupo que propôs o novo modelo institucional. A Embrapa tornou o Brasil referência mundial no agro. Isso num tempo em que várias instituições nasceram e morreram com igual velocidade. O que explica a longevidade e o gigantesco impacto inovador da Embrapa? No dia em que conheci Cirne Lima, ele me perguntou à queima-roupa: como fazer o nosso sistema de pesquisa agrícola ajudar efetivamente os brasileiros? Respondi também à queima-roupa: ministro, para se ter um bom sistema de pesquisa é preciso ter bons pesquisadores. Incontinenti, ele pediu um projeto. Formamos um pequeno grupo interdisciplinar que estudou a fundo os projetos exitosos da Revolução Verde, em especial, os centros de pesquisa do México, Índia e Filipinas – inspirados na teoria da inovação induzida que ganhara corpo na literatura da época. Em poucos meses, apresentamos uma proposta que Cirne Lima e o presidente Emílio Garrastazu Médici aprovaram de imediato. Desenhamos um sistema de pesquisa para atender às necessidades do mercado interno e externo, com grande interface com o setor privado. Pelos nossos planos, o Brasil teria de formar nas melhores universidades do mundo cerca de 1 mil Ph.D.s que, na sua volta, trabalhariam com foco em produtos e regiões. Para um plano desse tipo, era fundamental criar um modelo institucional fortemente arraigado no mérito intelectual e com liberdade para captar em tempo real os avanços da ciência ao redor do mundo. O modelo de empresa pública se mostrou o mais apropriado. O fato naquela solenidade que mais tocou o meu coração, assim como os de Cirne e de Eliseu, foi saber que nesses 50 anos a Embrapa formou 2 mil Ph.D.s – o dobro do que propusemos! Muitos fatores contribuíram para o sucesso da Embrapa. Três deles foram decisivos: a competente liderança técnica de Cirne Lima, a preservação da filosofia do projeto garantida pelo genial Eliseu Alves e a ética do trabalho que os pesquisadores absorveram durante a sua formação. Com isso foi possível blindar a Embrapa, evitando o empreguismo e o seu uso político. Espero que assim continue. Publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 25 de maio de 2023. voltar |
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