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Acadêmico: Antonio Penteado Mendonça Só louco joga dinheiro fora. É por isso que eu fico impressionado quando vejo que menos de vinte e cinco por cento da frota nacional é segurada.
Seguro não é barato. Entre as formas de proteção patrimonial, dependendo das alternativas, é até a mais cara. Se for possível neutralizar os riscos, minimizar as chances da ocorrência de eventos capazes de causar prejuízos e perdas, proteger as instalações com equipamentos de prevenção de perdas, o seguro fica caro e é até mesmo dispensável. Mas existem riscos que não podem ser trabalhados através da gerência de riscos e, consequentemente, necessitam do seguro para sua proteção. É o caso típico dos seguros de veículos. Por mais que se adotem medidas para minimizar o risco de acidentes com veículos, não há como neutralizá-los completamente, até porque várias situações não dependem da vontade do segurado. Uma colisão causada por terceiro, uma árvore que cai sobre o veículo, um furto ou um roubo estão além da capacidade do proprietário tomar medidas efetivas para sua proteção. Diante desse quadro, o seguro é a ferramenta mais eficiente e barata que existe. O preço médio do seguro de um automóvel no Brasil deve estar abaixo dos três mil reais. Todavia, o preço de compra de um carro zero quilômetro começa na casa dos setenta mil reais. Quer dizer, a diferença entre as duas ordens de grandeza fala por si. O preço da proteção compensa, ainda que nas perdas parciais o segurado tenha que suportar uma parte do custo, pela aplicação da franquia, e esse valor deve ser acrescido ao preço do seguro. A soma do preço do seguro com a franquia deve chegar, na média, perto dos seis mil reais, enquanto o conserto de uma colisão, num veículo popular, pode tranquilamente ultrapassar os trinta mil reais. E, no caso de uma perda total por acidente ou roubo, o valor é bem maior, já que corresponde ao preço de mercado do carro. Quantos brasileiros têm dinheiro para suportar perdas dessa ordem de grandeza sem se importarem com o tamanho do prejuízo? Trinta mil reais, sessenta mil reais, cem mil reais não fazem diferença? Que sorte a sua, mas essa não é a realidade da imensa maioria da população, ainda mais neste momento em que metade dos brasileiros vivem com até um salário-mínimo por mês. É verdade, nós temos muita gente rica para quem, entre secos e molhados, esses valores não seriam uma perda insuportável. Todavia, são justamente eles que não deixam de contratar seguros para seus veículos. Eles sabem que uma coisa é perder cem reais e outra completamente diferente perder trinta mil. Por que eles perderiam trinta mil se podem minimizar o prejuízo pagando, entre o preço do seguro e a franquia, seis mil reais? Só louco joga dinheiro fora. É por isso que eu fico impressionado quando vejo que menos de vinte e cinco por cento da frota nacional é segurada. Alguma coisa está errada, inclusive se levarmos em conta que nos últimos anos a idade média da frota tem envelhecido. Esse dado explicaria por que alguns seguros não seriam interessantes, mas mesmo isso tem mudado, graças ao lançamento de novas modalidades de seguro, visando os modelos mais antigos. Publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 01 de maio de 2023. voltar |
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