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Acadêmico: Antonio Penteado Mendonça O que aconteceu no litoral norte paulista não foi mais do que a repetição do que acontece todos os anos, só que em maior escala.
Quem apostar na ocorrência de um desastre de origem climática no verão brasileiro pode ficar rico. Ou não, porque o evento é tão certo que o múltiplo a ser pago ao vencedor será baixo. Não tem nada de novo debaixo do sol ou da chuva, já que é ela quem costuma causar os danos mais pesados, verão depois de verão, pelo menos desde que os portugueses chegaram no Brasil. Para dar uma ideia de como o tema é velho, disposição da Câmara Municipal, da época colonial, proibia morar nas zonas de várzea em volta de São Paulo porque as inundações eram responsabilizadas pelas epidemias que acometiam a vila. Para ficar mais perto no tempo, apenas na década de 1960, Caraguatatuba foi praticamente coberta pela lama que desceu da Serra do Mar, Santa Catarina teve o sul do Estado arrasado e Petrópolis foi devastada pelas chuvas torrenciais que caíram sobre a cidade. Pelo menos dessa época para cá não teve um único ano que tempestades de verão não tenham atingido alguma região brasileira, com ênfase para Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O que aconteceu no litoral norte paulista não foi mais do que a repetição do que acontece todos os anos, só que em maior escala. E agravado pela falta de planejamento urbano ou, pior ainda, pelo descaso dos três níveis de governo com as condições de vida das populações mais carentes – mais uma vez as mais atingidas porque, por falta de opção, são sistematicamente jogadas para as áreas de risco, tanto faz se no litoral norte ou na cidade de São Paulo. Depois da devastação, o governador rapidamente se dirigiu para a região e passou a coordenar os trabalhos de salvamento. Se tem alguma coisa de que ele não pode ser acusado é de ser responsável pelos danos causados pela chuva e pelo descaso de décadas de administrações municipais que nunca se importaram com o problema. O presidente também foi, com vários ministros, e as entrevistas concedidas foram todas no sentido de que tudo vai mudar e que daqui pra frente o país vai viver uma nova realidade, pautada no planejamento e ocupação correta do solo. Se lembrarmos o que aconteceu em 2011 na Região Serrana do Rio de Janeiro, quando a presidente era do partido do atual presidente e que até hoje as vítimas estão esperando o socorro prometido, não há muita razão para otimismo, mas a esperança é a última que morre. Também é importante lembrar que o Brasil contrata pouco seguro e que, portanto, as indenizações não terão maior impacto na realidade das vítimas. A maioria dos mortos não tinha seguro de vida e a maioria dos imóveis não tinha seguro para deslizamento de terra ou danos causados pela água. Assim, a única carteira afetada pela tragédia será a de seguros de automóveis, já que centenas de veículos foram atingidos e o seguro compreensivo cobre os danos sofridos por eles. Como no ano que vem teremos de novo tempestades de verão, é preciso começar a planejar a ocupação do solo e é preciso aumentar a penetração dos seguros. Publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 27 de fevereiro de 2023. voltar |
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