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MEUS CUMPRIMENTOS A TOM ZÉ E A TODOS DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS
Acadêmico: Djamila Ribeiro
Como bruxo das palavras que é, cantor tocou e toca todo um país que ainda acredita em sonhar

Meus cumprimentos a Tom Zé e a todos da Academia Paulista de Letras

Neste dezembro, estive pela primeira vez no almoço de fim de ano da Academia Paulista de Letras, uma ocasião também de despedida da gestão do presidente José Renato Nalini, que completou o biênio de seu mandato e será sucedido por Antônio Penteado, imortal da cadeira de nº 32 e atual vice-presidente, que foi eleito por votação dos e das confrades do Academia do largo do Arouche.

Sentei-me perto de Mauricio de Sousa, da cadeira nº 24, eternizado nos gibis da "Turma da Mônica". Ficamos conversando sobre as expectativas para o filme de grande produção que retratará sua vida, passando também por causos de sua infância, um mais fantástico do que o outro. Cantamos parabéns ao escritor e fotógrafo Márcio Scavone, da cadeira nº 9, e celebramos as boas e leves conversas.

É impossível neste espaço saudar um a um, mas saúdo os presentes nas pessoas de Maria Adelaide do Amaral, da cadeira nº 35, sempre tão querida, como também Betty Milan, da cadeira nº 4, acadêmicas cujos planos para fortalecimento da cultura e das escritoras nos enchem de ânimo para 2023.

E aqui, no término do ano, faço questão de cumprimentar meu querido confrade, o jurista José Renato Nalini, imortal da cadeira nº 40, que encerrou seu mandato em grande estilo. Cumprimento-o pela sua encantada presidência, responsável por dias memoráveis na história da cultura do Estado.

Nalini é um homem delicado no trato e nas palavras e, após contato inicial do meu querido amigo Leandro Karnal, da cadeira nº 7, de Maria Adelaide e do embaixador Rubens Barbosa, da cadeira nº 10, foi ele quem me acolheu durante o processo de entrada na Academia e que, por conta dos eventos da vida, passou a ser uma referência para minha família e amigas queridas.

Desde minha posse, tive a chance de estar com a Academia algumas vezes, mas a noite mais emocionante foi a oportunidade memorável de ser uma das pessoas que estavam presentes na posse do Acadêmico Tom Zé na cadeira nº 33, ocupada anteriormente pelo múltiplo artista e escritor Jô Soares. Uma cadeira mística pelo talento com os palcos.

Foi nos palcos que o maestro Júlio Medaglia encantou plateias ao redor do mundo, como também encantou particularmente aquela plateia do início de novembro, quando fez o discurso de recepção de Tom Zé.

Disse Júlio no discurso sobre a relação que construiu com Astor Piazzolla, muito antes de ele ser reconhecido como um dos maiores nomes do tango. Eles estavam na Alemanha visitando uma vinícola perto de onde Júlio morava e, provavelmente "borrachos", não entendi ao certo. Depois de um gole em um vinho delicioso, Piazzolla lançou a máxima: "Júlio, a boa música é como o vinho. Deve vir da terra."

E esse era Tom Zé, o mais paulista dos baianos, que puxa sua música da terra e brinca com as letras como um alquimista e seus tubos de ensaios. Medaglia lembra da época em que foi jurado dos festivais de música da Record, quando a música tinha que ser excelente para que os candidatos prosseguissem às próximas fases.

Lá, se apresentavam gênios como Milton Nascimento, Chico Buarque e tantos nomes. Tom Zé foi o vencedor da quarta edição, em 1968, com a música "São São Paulo, Meu Amor" —"São 8 milhões de habitantes/ De todo canto e nação/ Que se agridem cortesmente/ Correndo a todo vapor/ E amando com todo ódio/ Se odeiam com todo amor/ São oito milhões de habitantes/ Aglomerada solidão/ Por mil chaminés e carros/ Caseados à prestação/ Porém com todo defeito/ Te carrego no meu peito".

Uma das coisas que Medaglia ressaltou é que essas apresentações do Festival da Record detêm o recorde proporcional de audiência televisiva com mais de 90 dos televisores ligados no mesmo canal, sinal de que o público responde e demanda músicas de qualidade, algo que a indústria cultural tem
tornado cada vez mais raro.

Tivemos naquela noite de novembro um breve show com alguns de seus sucessos do histórico álbum "Todos os Olhos". Entre eles, Tom Zé cantou a música sobre Augusta —"Augusta, graças a Deus, entre você e a Angélica, eu escolhi a Consolação, que veio olhar por mim e me deu a mão...". A alguém que cantou São Paulo com tanto brilhantismo e amor, a cadeira de imortal das letras é mais do que merecida.

Como bruxo das palavras que é, Tom Zé tocou e ainda toca todo um país que ainda acredita em sonhar.
Aproveito este almoço em companhias tão agradáveis para cumprimentá-lo por sua posse, bem como a todos e todas acadêmicas, em especial pela brilhante presidência de José Renato Nalini.

Publicado no jornal Folha de S. Paulo
Em 22 12 2022



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