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Acadêmico: Betty Milan Não reeleger Bolsonaro será ato cívico das brasileiras
O voto precioso das mulheres Betty Milan Escritora e psicanalista; autora dos romances ‘O Papagaio e o Doutor’ e ‘Baal’ (ed. Record), entre outros As razões para nenhuma mulher votar em Jair Bolsonaro (PL) em outubro são muitas. Como tendemos a ser desmemoriados, relembro os fatos e apresento os motivos: 1 - Na tradição machista, Bolsonaro desqualifica as mulheres. O exemplo disso foi a ocasião em que declarou ter quatro filhos e uma filha "por ter fraquejado uma vez". Além de ter humilhado a própria filha, dando a entender que a jovem era a expressão de uma fraqueza, também humilhou as mulheres mais velhas ao ofender a primeira-dama francesa, Brigitte Macron. A tradição machista na qual ele se reconhece é responsável pela alta taxa de feminicídios no Brasil, a quinta maior do mundo; 2 - O aborto já foi legalizado em 63 países e, recentemente, em nações da América Latina. Pela Constituição brasileira, é permitido em casos de estupro, risco de morte materna ou anencefalia. A legislação precisa ser mudada urgentemente porque é a saúde das mulheres que está em jogo. Claro que é preciso privilegiar a contracepção, porém esta pode falhar —e as mulheres pobres acabam praticando o aborto com sonda, correndo o risco de morrer. Vi isso no pronto-socorro do Hospital das Clínicas, em São Paulo, quando era residente. A única saída é a legalização. O presidente é contrário ao aborto mesmo quando a mulher tenha sido estuprada. Engravidou, tem que dar à luz, acredita ele. Defende a vida do embrião, não a da mãe; 3 - Bolsonaro já fez apologia do estupro. Quando a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) o acusou de tentativa de estupro, ele respondeu que jamais a estupraria por ela ser feia e concluiu que a deputada "não merecia" ser estuprada. Incitou o abuso, transformando um ato de violência masculina num ato de reconhecimento do mérito feminino; 4 - Não é contrário ao estupro, porém preconiza a esterilização do estuprador para evitar que a mulher fique grávida e faça um aborto, valendo-se do seu direito. Bolsonaro pode ter se inspirado nos experimentos de esterilização conduzidos em Auschwitz para destruir a capacidade de produzir óvulos ou espermatozoides; 5 - As mulheres precisam educar os seus filhos, e o presidente não pode servir de exemplo. A educação implica contenção, e ele não tem controle algum sobre o que diz. Chegou a tratar de energúmeno um educador como Paulo Freire, reconhecido nacional e internacionalmente. Por falta de ideias claras e, na falta de argumentos, Bolsonaro xinga. Vale-se de todos os meios de comunicação de massa ao seu dispor para difundir o ódio. A população brasileira é composta por mais pessoas do sexo feminino que do sexo masculino. Como estão em número superior, elas podem barrar o caminho de um presidente que foi eleito graças a uma facada e à promessa de acabar com a corrupção e não negociar cargos. Um presidente que não parou de demitir ministros qualificados para eleger os que aceitassem a mais absoluta submissão. Exemplo disso é o caso de Luiz Henrique Mandetta, que alertou repetidamente para o desastre que resultaria da política de saúde de seu governo. Bolsonaro se opôs ao isolamento e retardou a aquisição de vacinas, contrariando a tradição de um país cujo povo deseja ser imunizado. E, como se nada fora, circulou pelo mundo sem estar vacinado —na trilha do mentor americano, Donald Trump, que testou positivo para a Covid-19 e foi sem máscara ao debate com Joe Biden, ameaçando o então candidato democrata. Bolsonaro vilipendia continuamente a imagem do país no exterior, como se pudéssemos viver perdidos no "mapa-múndi do Brasil". Ignora o drama do planeta, deixando as queimadas e as inundações se perpetuarem. Mais que isso, foi ter com o presidente russo, Vladimir Putin, e não se opôs claramente à guerra, cujo preço maior é pago pelas mulheres e crianças ucranianas. Não reeleger o presidente é um ato cívico no qual as brasileiras não podem deixar de se engajar. O voto de cada uma é precioso. Significa a liberdade de dispor do próprio corpo e de se tornar mãe ou não. Este 2022 pode ser o ano da virada. Link do artigo: Lhttps://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/06/o-voto-precioso-das-mulheres.shtml Publicado no jornal Folha de S. Paulo Em 11 06 2022 voltar |
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