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DESEMPREGO, DESALENTO E INFORMALIDADE
Acadêmico: José Pastore
É imperioso olhar o longo prazo, acabar com as brigas políticas, reequilibrar as finanças públicas e ter uma liderança firme nos campos da tecnologia e da educação.

Como pode o Brasil se livrar desses três graves problemas? É a pergunta que mais recebo de estudantes e jornalistas. Infelizmente, não existe uma bala de prata. O emprego de hoje reflete o investimento de ontem. E, nos dias atuais, o Brasil investe apenas 15 do PIB o que é irrisório para atender as necessidades de trabalho.
Mas, mesmo na retomada dos investimentos, especula-se sobre o impacto das tecnologias poupadoras de mão de obra. Sabe-se que elas destroem e criam empregos. Entretanto, as novas vagas só podem ser aproveitadas por trabalhadores que têm a qualificação exigida por elas.
Esse ajuste não é trivial. O Brasil possui poucos empregos e trabalhadores de alta qualidade. A maioria dos atuais postos de trabalho está em setores que requerem uma qualificação limitada: commodities, comércio e serviços simples, transporte e, marginalmente, indústria. Bem diferente é a matriz econômica da Alemanha, por exemplo, que exporta 50 do PIB em bens e serviços de alta tecnologia. Ou seja, exporta ideias, pesquisa, ciência que, em última análise, estão na cabeça dos trabalhadores.
No Brasil, 18,5 trabalhadores fazem tarefas simples do pequeno comércio e serviços; 9,4 fazem o mesmo na agricultura; assim é também com 6,5 que é a metade da mão de obra industrial; com 6,4 na construção civil; 5,9 nos serviços domésticos; 5,3 no transporte; 5,1 nos bares, hotéis e restaurantes; e 5,6 nos chamados “outros serviços” que incluem manejo de animais, apoio florestal, manutenção de esgotos, escoamento de resíduos, sapateiros, relojoeiros, chaveiros, bicicleteiros e outras atividades que demandam qualificação limitada. Tanto que 3,2 dos nossos trabalhadores são analfabetos; 22,8 têm o fundamental incompleto; 8,4, o fundamental completo; 7,4, o médio incompleto; 33,4, o médio completo; 6,3, superior incompleto; e 18,5, o superior completo. Tudo isso sem falar na qualidade do ensino. Apenas 8 completam cursos técnicos em escolas de formação profissional.
A Alemanha, para produzir bens e serviços em química, farmácia, máquinas, automóveis, aviões, energia limpa e outras atividades complexas tem 44 de técnicos (formados pelo eficiente sistema dual que combina escolas e empresas) e 32 de diplomados em universidades, especialmente, em engenharia e ciências. As atividades mais simples do comércio e dos serviços são realizadas, na maior parte, por imigrantes de baixa qualificação.
Mas, a modernização tecnológica também avança no Brasil. Por isso, é imperioso implantarmos uma estratégia paralela de qualificação das pessoas. A China tem sido campeã nessa sincronia. Ao longo dos últimos vinte anos, o país intensificou o conteúdo tecnológico da sua economia e, ao mesmo tempo, qualificou o seu pessoal. No ano 2000, a China formou 46 milhões de jovens nas universidades; em 2020, foram 218 milhões! O mesmo se deu no ensino médio e técnico.
A Unctad recomenda que os países demasiadamente dependentes de commodities aproveitem as oportunidades que estão se abrindo e reduzam a lacuna tecnológica que neles impera. Está aí a necessidade de encetarmos uma gigantesca cruzada educacional de 15-20 anos para o Brasil dar um salto e acompanhar a eventual evolução da sua matriz econômica. Só assim poderemos atenuar o desemprego, o desalento e a informalidade de modo expressivo. É imperioso olhar o longo prazo, acabar com as brigas políticas, reequilibrar as finanças públicas e ter uma liderança firme nos campos da tecnologia e da educação.


Publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 26 de agosto de 2021.



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