Compartilhe
Tamanho da fonte


O FUTURO DOS TRABALHADORES INFORMAIS
Acadêmico: José Pastore
"Com a normalização gradual das atividades e do aumento do trabalho formal, os informais voltarão a ter trabalho e renda"

O que será dos trabalhadores informais depois da pandemia? Muitos analistas temem que eles continuem amargando a desocupação atual devido ao avanço da digitalização que exige habilidades que eles não têm. A preocupação procede, mas não deve ser exagerada.
A atual desocupação dos informais decorre, em grande parte, do medo de contágio que tomou conta das famílias e das pessoas que utilizam os serviços de faxineiras, domésticas, cabeleireiras, manicures e reparadores domiciliares como pedreiros, encanadores, pintores etc. Além do medo, muitas famílias perderam renda, o que inviabilizou a sua utilização.
A própria rua se esvaziou por muitos meses, o que fez minguar o trabalho para os informais. A redução ou paralisia dos serviços de abastecimento, limpeza, conservação, segurança, transportes de passageiros e de carga agravaram a sua situação. Tudo indica, porém, que, com a normalização gradual dessas atividades e do aumento do trabalho formal, os informais voltarão a ter trabalho e renda.
E o impacto da digitação? Esta avançou bastante com a pandemia. Mas, novamente, não se deve exagerar. A matriz econômica brasileira ainda repousa em grande parte em commodities e serviços de baixa complexidade, realizados por milhões de informais de baixa qualificação. Bem diferente é a situação da Alemanha, por exemplo, que exporta quase 50 do PIB, com grande concentração em bens de alta tecnologia que exigem pessoal altamente qualificado: automóveis, aviões, computadores, maquinário, instrumentos científicos, produtos químicos, farmacêuticos, tecnologias verdes e serviços técnicos de engenharia, robótica, inteligência artificial e outros. Cerca de 50 dos trabalhadores alemães completam escolas técnicas; 10 formam-se como especialistas, tornando-se mestres em sua profissão; 22 têm diploma universitário e doutorado; apenas 18 não fizeram cursos profissionais.
Essa é a mão de obra exigida por aquela economia. No Brasil, 3 dos trabalhadores são analfabetos; 32 têm o ensino fundamental incompleto ou completo; 41 têm o ensino médio incompleto e completo; 24 têm o ensino superior incompleto e completo. Ou seja, a precariedade da qualificação encontra paralelo na natureza da nossa matriz econômica. A grande maioria dos brasileiros trabalha no comércio e em serviços de baixa qualificação e baixos salários, em grande parte na informalidade.
Mas, da mesma forma, não se deve minimizar as exigências de qualificação daqui para frente. Por exemplo, a entrada maciça de novas tecnologias eletrônicas, químicas, mecânicas e biológicas no agronegócio vem demandando trabalhadores com habilidades cognitivas e socioemocionais nesses campos e também no comércio e serviços nas cidades do interior do Brasil. O mesmo ocorre no setor do comércio eletrônico nas grandes cidades. E, mais ainda, nas áreas de saúde, educação, seguros, atividades financeiras e outras. Na indústria, os ramos da aeronáutica, veículos, alimentação, celulose e papel vêm demandando pessoal qualificado nas atividades produtivas e também nas áreas administrativas.
Em suma. Com o avanço da vacinação e a volta das atividades familiares, industriais, comerciais, da rua e dos vários serviços, acredito que os trabalhadores informais encontrarão novamente suas oportunidades de trabalho e geração de renda nos próximos 12 ou 18 meses. Penso que a sua baixa qualificação e o avanço da digitalização não os condenarão a uma desocupação irreversível. Isso não dispensa, é claro, o grande esforço que teremos de fazer para melhorar sensivelmente o seu nível de qualificação.


Publicado no jornal Correio Braziliense, 06 de agosto de 2021.




voltar




 
Largo do Arouche, 312 / 324 • CEP: 01219-000 • São Paulo • SP • Brasil • Telefone: 11 3331-7222 / 3331-7401 / 3331-1562.
Imagem de um cadeado  Política de privacidade.