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Acadêmico: Antonio Penteado Mendonça "O Banco Central, depois de vários anos sem elevar os juros, na última reunião do Procon, aumentou a taxa básica de 2.0 para 2.75 ao ano."
O Banco Central, depois de vários anos sem elevar os juros, na última reunião do Procon, aumentou a taxa básica de 2.0 para 2.75 ao ano. Foi uma mexida importante, que surpreendeu parte dos analistas que não acreditava numa alta tão expressiva. A explicação é que foi uma ação destinada a rearranjar a economia, onde o dólar pressionado poderia causar mais estragos e, de outro lado, o fraco crescimento e o alto desemprego também estavam cobrando seu preço. Foi também a primeira ação depois da independência da instituição, o que poderia levar vários políticos a questionarem o acerto da votação, já que agora o Banco central está livre das pressões políticas e dos riscos de demissão de seus diretores, o que abre espaço para outros movimentos na mesma direção, aliás, como sinalizado no final da reunião que decidiu pelo aumento da taxa SELIC para 2.75 ao ano.< /p> Ninguém gosta de juros altos, ou quase ninguém. Tem quem ganhe com eles e, consequentemente, não ache ruim movimentos como este. Com certeza, o sistema financeiro não reclama. E a verdade é que os juros altos são interessantes para as seguradoras também. Quando os juros estão muito baixos, a única forma de uma seguradora controlar resultados industriais negativos é aumentar o preço do seguro. Resultado industrial é o resultado do negócio do seguro sem qualquer interferência de juros ou outros custos e receitas. A seguradora recebe o prêmio e abate dele os sinistros, os custos administrativos, os custos comerciais, a carga tributária e o lucro dos acionistas. É comum esta conta acabar negativa, ou seja, a seguradora, em vez de ganhar com o negócio direto, acaba perdendo dinheiro porque a soma das despesas é maior do que o prêmio cobrado. Num cenário neutro ou sem impacto de outra natureza, a seguradora teria que aumentar o preço do seguro para reequilibrar suas contas e remunerar o capital dos acionistas. Mas no mundo real não existe cenário neutro e as seguradoras têm uma arma muito forte para equacionar a conta sem precisar mexer no preço do seguro. É a enorme massa de dinheiro composta pelos prêmios e reservas que ela aplica no mercado. Grande parte destes recursos deve obrigatoriamente ser aplicada em títulos públicos, outra não. Assim, se os juros estiverem muito baixos, ou mesmo zerados porque a inflação come a remuneração, a seguradora não consegue usar estes recursos para melhorar seu desempenho. Mas se os juros são mais altos do que o resultado negativo da seguradora, o quadro muda e as aplicações financeiras se tornam um importante diferencial no resultado operacional, que é a soma do res ultado industrial com as aplicações financeiras. Por exemplo, supondo que a seguradora teve um resultado industrial de 2 negativo e as aplicações financeiras renderam 3 por cento, ela estará ganhando mais do que o ponto de equilíbrio determinado por sua conta de precificação dos seguros. Se o resultado empatasse, já estaria muito bom; com 1 a mais, o lucro é consistente. O ano de 2020 foi um ano onde o comportamento das seguradoras variou muito de companhia para companhia. Algumas lucraram bem, outras lucraram, outras empataram e outras perderam. E os juros de 2 não ajudaram nem um pouco a conta de chegada de nenhuma delas. A solução seria aumentar o preço dos seguros. Mas num cenário deprimido como o atual, com mais de 26 milhões de pessoas sem trabalho, aumentar o preço do seguro é muito difícil. É por isso que o aumento da taxa básica de juros chega como um alívio importante para várias seguradoras. A partir de agora, elas contam com quase 1 cento a mais na conta do resultado operacional e, de acordo com o indicado pelo próprio Banco Central, podem continuar animadas, porque no mês que vem deve vir outro aumento. Como se vê, tem gente que não acha ruim os juros subirem. Disponível em: https://www.sindsegsp.org.br/site/colunista-texto.aspx?id=1506 19 de março de 2021 voltar |
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