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UM SENHOR DIRETOR
Acadêmico: Maria Adelaide Amaral
Conheci Cecil Thiré em 1977 em São Paulo, dirigindo Constantina, estrelado por sua mãe Tônia Carrero e um elenco que tinha Paulo Goulart, Karim Rodrigues, Regina Braga e outros notáveis.

Conheci Cecil Thiré em 1977 em São Paulo, dirigindo Constantina, estrelado por sua mãe Tônia Carrero e um elenco que tinha Paulo Goulart, Karim Rodrigues, Regina Braga e outros notáveis. Era uma comédia leve e chique, de gênero muito diferente A Noite dos Campeões que Cecil tinha dirigido antes e que me tocara particularmente. Sob sua batuta todas as nuances do texto eram exploradas, os tempos dramáticos realçados, a iluminação, cenários, figurinos e música em harmonia com a concepção do espetáculo.

O sonho de todo autor é encontrar um diretor que saiba ler seu texto, descobrir intenções que ele nem supôs e trazer à luz todos os subtextos. Cecil Thiré era encenador com quem eu sonhava para dirigir minhas duas (primeiras) peças de teatro, A Resistência e Bodas de Papel, ainda inéditas. À admiração que eu sentia se somou uma grande amizade em 1978, quando sob sua regência, Bodas de Papel foi encenada em São Paulo.

O êxito da peça encorajou Cecil a inscrever A Resistência na concorrência do Teatro Gláucio Gil, embora em suas palavras, fosse uma "peça de jornalistas que não iria interessar ninguém, exceto alguns jornalistas". No fim, interessou todo mundo e lotou todas as casas onde foi montada, numa época em que o teatro era de terça a domingo, com duas sessões no sábado e no domingo, e eventualmente às quintas-feiras. Bons tempos.

Na estréia de Bodas Papel, Flávio Rangel disse que Cecil Thiré era um grande diretor de atores, o que era um ato de coragem em meio à geração de diretores pirotécnicos. Mas ser um bom diretor de atores é acima de tudo um ato de generosidade e de amor ao teatro: é servir o elenco e o texto, é exigir o máximo de cada naipe da orquestra e ao mesmo tempo engrandecer o conjunto. E, na condução harmoniosa de todas a partes, revelar sua própria grandiosidade. Cecil sempre foi generoso e quase sempre grandioso nos espetáculos que dirigiu.

Nos anos 80, Cecil foi fisgado pela televisão, onde melhor revelou talento de ator. Nos anos 90, foi a minha vez de ir para a televisão e, para a nossa alegria, nos reencontramos em Os Maias, onde ele interpretou um magnífico Cohen, marido banqueiro de Raquel (Maria Luísa Mendonça).

Publicado no jornal O GLOBO, 10/10/2020.




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