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PIB, REFORMAS E EMPREGOS
Acadêmico: José Pastore
''As reformas tributária e administrativa são importantíssimas, mas os efeitos de curto prazo são reduzidos. Daí a urgente necessidade de aprovar o Programa Renda Brasil para tornar definitivo o auxílio emergencial com valores menores''

A forte queda do PIB de 9,7% no segundo trimestre, depois de ter recuado 2,5% nos primeiros três meses do ano, abriu a discussão sobre a retomada da atividade econômica: em V ou em W? A respeito do emprego, cerca de 50% da população economicamente ativa estão sem trabalho. E o quadro só não é pior devido ao auxílio emergencial e às medidas de preservação das empresas e dos empregos no setor formal.
Idealmente, as medidas de estímulo seriam gradativamente reduzidas com a retomada da atividade econômica e consequente geração de emprego e renda. As reformas tributária e administrativa são importantíssimas, mas os efeitos de curto prazo são reduzidos. Daí a urgente necessidade de aprovar o Programa Renda Brasil para tornar definitivo o auxílio emergencial com valores menores.
Além disso, noto uma importante luz no fundo do túnel para gerar empregos. Refiro-me à reativação da construção de casas populares e à retomada de obras paralisadas. Construção civil tem uma cadeia produtiva longa, o que estimula o emprego em vários segmentos. É boa notícia para 2021.
Também vejo com bons olhos o agronegócio. Apesar de gerar poucos empregos diretos, a agropecuária estimula a geração de postos de trabalho no comércio e nos serviços nos municípios onde opera. Tudo indica que esse setor continuará crescendo em 2021 para atender às exportações.
Penso que em 2021 os setores econômicos apresentarão resultados defasados e diferenciados. O transporte de carga está sendo reativado e parou de demitir. É bom sinal. As vendas nos supermercados e nas farmácias devem manter o emprego e até expandir um pouco no próximo ano.
O comércio eletrônico está bombando, emprega pouco, é verdade, mas estimula as atividades de logística e o ramo de embalagens (papel e papelão), que devem contratar empregados em 2021. Os serviços pessoais estão reagindo depressa, com tendência a manter o pessoal empregado e até recontratar os recém-demitidos.
Mas há setores com pouca chance de contratar pessoal em 2021. As escolas particulares devem gerar mais desemprego com a desistência dos alunos. As clínicas e hospitais, ironicamente, preveem demissões em decorrência da forte diminuição dos planos de saúde. Na indústria, as reações mais positivas estão limitadas aos ramos dos bens de consumo (alimentos, produtos de higiene e limpeza) e dos bens de consumo duráveis. O ramo de alimentação e alojamento (bares, restaurantes e hotéis) está evoluindo muito lentamente, com pouca chance de muitas admissões no primeiro semestre de 2021. O ramo de calçados, vestuário e artigos de couro também está devagar e longe de contratar mais trabalhadores. Finalmente, os ramos de entretenimento, transporte aéreo, agências de viagem e turismo precisarão de muito tempo para se recuperar (fala-se em 2024). Os trabalhadores por conta própria aumentaram muito, mas a maioria é informal, com fortes perdas de renda (compensadas parcialmente pelo auxílio emergencial).
Em resumo: temos pela frente várias forças que podem estimular o emprego e outras que podem inibir. Algumas provocarão uma retomada em V; outras, em W. De modo geral, precisaremos de muito tempo para acomodar os que perderam o emprego na pandemia. É claro que a chegada da vacina pode virar o quadro e proporcionar importante injeção de ânimo em toda a economia, inclusive no emprego.

Publicado em O CORREIO BRAZILIENSE, 04 de setembro de 2020.






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