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Acadêmico: Antonio Penteado Mendonça Carnaval é assunto sério. Em primeiro lugar, a festa gera bilhões de dólares em gastos de turistas por todo o país. Em segundo lugar, envolve milhões de reais em fantasias, carros alegóricos, desfiles de escolas de samba, trios elétricos e blocos e bandas de todos os tipos.
Carnaval é assunto sério. Em primeiro lugar, a festa gera bilhões de dólares em gastos de turistas por todo o país. Em segundo lugar, envolve milhões de reais em fantasias, carros alegóricos, desfiles de escolas de samba, trios elétricos e blocos e bandas de todos os tipos. Quer dizer, a festa que, no começo, era a válvula de escape para se aguentar os quarenta dias da Quaresma se transformou num negócio próspero, muito mais rentável do que a venda de pescados e bacalhau para os dias de abstinência de carne. Os números envolvidos no carnaval de rua paulistano são estonteantes. Milhões de pessoas, milhões de cervejas, milhões de refrigerantes, de sanduíches, de salgadinhos, etc. O desfile das escolas de samba não fica muito atrás e, se colocarmos na conta os patrocínios de transmissão, os números ficam gordos e fartos. Quer dizer, é uma festa para muitas pessoas se divertirem e algumas ganharem muito dinheiro. Por isso, profissionalismo é a palavra-chave. Não há espaço para amadores num negócio do porte do carnaval, seja em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia ou qualquer outro estado da Federação. A festa deste ano já foi. Os interessados já estão de olho no ano que vem e, para o sucesso futuro ser maior do que o deste ano, é preciso que tudo tenha corrido bem. Que a máquina tenha girado azeitada, com a alegria correndo solta, protegida da violência que assola o Brasil. É aí que mora o perigo. Ainda que os desfiles das escolas nos sambódromos da vida sejam um sucesso de público, beleza e muita alegria, ainda que dentro das arquibancadas e camarotes a segurança faça parte do programa, nas ruas nem sempre é isso que se vê. O carnaval atrai bebida alcóolica, drogas leves e pesadas, muita irresponsabilidade e falta de comprometimento com o bem estar e segurança do próximo. Os acidentes de trânsito se multiplicam e a violência dos acidentes cresce na mesma proporção em que um grande número de motoristas dirige completamente embriagados, sem reflexos ou qualquer tipo de ponderação que reduza sua exposição a acidentes indesejados, mas que acontecem, acima de tudo, em função da irresponsabilidade e dos excessos de bebidas, drogas e velocidade. O mais trágico no quadro é que invariavelmente alguém que não cometeu nenhum excesso e que só queria se divertir acaba pagando o pato, porque estava no lugar errado na hora errada e é atingido por outro alguém sem condições de dirigir. Mas não são apenas os acidentes com vítimas que custam caro e empanam o brilho da festa, levando dor de cabeça e sofrimento para milhares de pessoas que muitas vezes querem é estar longe da festa. Invariavelmente, nos feriados prolongados, o número de acidentes de trânsito, tanto na cidade como nas estradas, sobe. A principal razão é a irresponsabilidade, seja porque os motoristas dirigem bêbados, seja porque não respeitam as leis, nem a sinalização. Mas há mais e, no fundo, também se tratam de casos de irresponsabilidade. Quando alguém entra numa estrada sem fazer uma revisão no veículo, não tem como se dizer que não foi irresponsável. Pastilhas gastas, pneus carecas, suspensão velha, barra de direção com jogo, etc., isolados ou somados, são puro fermento para o aumento dos acidentes. Só que há mais ainda. Motoristas sem prática de dirigir em estradas também aumentam os riscos de acidentes. E o quadro fica mais sério quando sabemos que milhares de motoristas que trafegam pelas ruas e estradas brasileiras não são habilitados. Invariavelmente, os acidentes acontecem por uma soma de fatores. Se isoladas, as situações acima são suficientes para causar perdas terríveis; somadas, elas têm potencial para matar, deixar inválidos e ferir centenas de pessoas. Será que não é o caso de se ponderar se vale a pena ser completamente irresponsável? Será que é preciso dirigir depois de beber? Será que não tem outra forma de se divertir sem ser andar em excesso de velocidade? Será que não tem como respeitar a lei? A maioria das pessoas faz o certo. O drama são os que se acham espertos. Publicado no jornal O Estado de São Paulo, 24 de fevereiro de 2020. voltar |
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