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ENTREVISTAR É MUITO MAIS DO QUE SÓ PERGUNTAR
Acadêmico: Luiz Carlos Lisboa
"Ler com atenção e fascínio as entrevistas de Oriana Fallaci foi para ela só parte de um aprendizado que se somava a cada experiência. Aquele era o tempo do Correio da Manhã e mais tarde o do “Caderno B” do Jornal do Brasil, e seus entrevistados e mestres de então foram ninguém menos que João Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto e Érico Veríssimo. "

Resenha de autoria do acadêmico Luiz Carlos Lisboa, para o livro Gentíssima de Maria Ignez Corrêa da Costa Barbosa.

Não apenas entrevistas, mas retratos. Essa é a verdade que se descobre em Gentíssima, coletânea que a autora prefere chamar de entrevistas por puro recato. Enquanto alude ao entrevistado, como uma espécie de magia ela o mostra por inteiro. Maria Ignez Corrêa da Costa Barbosa se confessa: “Curiosa da pessoa à minha frente, fosse ela alguém bastante conhecido ou uma anônima empregada doméstica da casa de meus pais, sempre acreditei que sairia enriquecida da experiência. E o jornalismo representava o passe que me permitia observar e me direcionava o olhar”.

Ler com atenção e fascínio as entrevistas de Oriana Fallaci foi para ela só parte de um aprendizado que se somava a cada experiência. Aquele era o tempo do Correio da Manhã e mais tarde o do “Caderno B” do Jornal do Brasil, e seus entrevistados e mestres de então foram ninguém menos que João Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto e Érico Veríssimo.

Quarenta anos passados da primeira publicação, Maria Ignez realizava o sonho de finalmente viver no Brasil. Como filha do embaixador Sérgio Corrêa da Costa e esposa do embaixador Rubens Barbosa, ela esteve boa parte da vida na Europa e nos Estados Unidos. De volta ao País, ela relança Gentissima numa edição revisada, ampliada e cuidadosamente produzida por seu primo Pedro Corrêa do Lago, com 28 entrevistas.

Ali se encontram mais do que entrevistas, porque lá estão também o melhor de ideias, de alternativas, de recursos que emanam da entrevistadora, escritora consumada, criativa, original, versátil. Não somente ensina a quem lê a arte da entrevista, mas também a contamina da arte poética e igualmente das sutilezas da estética. Ouvindo Guimarães Rosa, aprendeu que “o sertão fala a língua de Goethe, de Dostoiévski, de Flaubert, porque aquele é o terreno da eternidade”, e nos lembra o quanto disso está saturado Sagarana.

Cada retrato que faz vem ornado de graça, seja em Agripino Griecco, em Marina Colassanti ou Salvador Dali, Henry Moore ou Lygia Clark. E além do literário, Maria Ignez aborda o sonante com Pixinguinha, Elizete Cardoso e Vinícius de Moraes, viajando pelo tropical com Kubitschek, Léa Maria e toda beleza possível entre o céu e a terra. Mas é preciso que se faça justiça ao bem maior da autora, sua fala correta e oportuna, que de braços dados com a memória convida o leitor a reaproximar as coisas leves do mundo com a beleza imutável que se encontra no diamante e no mármore, e que algumas pessoas têm o dom de colocar em nossas mãos de homem comum.


Barbosa, Maria Ignez Corrêa da Costa Barbosa Gentíssima, Ateliê Editorial - 2007




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