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Acadêmico: Dom Fernando Antônio Figueiredo Mc 10,46-52 - Cura do cego de Jericó
Deus não se manifesta como um objeto, que possa ser apreendido pelo entendimento, mas sim como uma pessoa, uma presença, que, para além de todo conceito, toca o interior do ser humano, numa união de amor. É a supremacia do amor (agápe) sobre o conhecimento (gnosis), na relação espiritual e pessoal entre Deus e o homem. Isto se vê, de modo tocante, na cena da cura de um cego, que se coloca nas mãos misericordiosas de Jesus. Atitude de reverência, nascida da fé, que abrange a instância interior do coração, domínio misterioso onde, para lá dos conceitos e ideias, estabelece-se a comunhão no amor. Ao sair da cidade de Jericó, um cego, chamado Bartimeu, sentado à beira do caminho, suplica a Jesus: “Filho de Davi, Jesus tem compaixão de mim! ”. Ao ouvi-lo, Ele se detém e pergunta-lhe: “O que queres que eu te faça? ”. Trêmulo no corpo, firme no espírito, o cego responde: “Senhor, que eu possa ver novamente”. Se, primeiramente, ele O chama de Filho de Davi, o Messias, agora, chama-O de Senhor. Verdadeira profissão de fé. Momento da graça divina. Não se pode deixar passar aquele momento. Então, deixando seu manto, “o cego deu um pulo e foi até Jesus”. Segundo S. Beda, esse fato “simboliza a Igreja primitiva dos gentios, os quais, almejando a luz de Cristo, seguem os ensinamentos do Evangelho, desnudos, isto é, despidos dos poderes do mundo, o que os torna merecedores da posse do tesouro eterno no céu”. O Senhor se volta para ele e, em sua bondade, diz: “Vai, a tua fé te curou”. Só carinho. Abriram-se seus olhos corporais, também “o olho interior”, início de uma vida espiritual, compreendida como relação com o Deus pessoal, que, num ato gratuito, se dá por amor. Pondo-se no lugar do cego, fugindo de um saber científico, transformado, por vezes, numa mundividência e ideologia, camufladas, exclamamos com Clemente de Alexandria: “Ponhamos fim ao esquecimento da verdade, rechaçando a ignorância e a treva, que nos impedem a visão espiritual. Contemplemos a verdade de Deus”. Pasmos e extasiados, nós reconhecemos que, movido pelo sopro vital, proveniente do insondável abismo do amor e da sabedoria, o cego abriu o seu coração à misericórdia divina. “E ele O seguia pelo caminho, glorificando a Deus”. Crescimento, sem fim, no conhecimento do vulto de um Deus, que sempre se revela, permanecendo Mistério: aqueles que não veem recuperam a vista, e aqueles que veem se tornam cegos: a razão necessita escutar o que é ser justo, reto, verdadeiro, se não quiser ficar surda, muda e cega. voltar |
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