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QUEIMADAS
Acadêmico: Antonio Penteado Mendonça
"Entre as cenas mais tristes que alguém pode assistir, poucas se comparam a uma queimada. Tanto faz se em vegetação nativa ou área cultivada, a queimada, com sua beleza trágica, entristece o coração, aperta o peito, dói na alma."

O pôr do sol, dependendo da intensidade das chamas, e se tiver pouca fumaça, fica esplendoroso. O céu se cobre de laranja e vermelho e os traços negros da fumaça criam um quadro impressionista de deixar os maiores pintores com inveja da obra de arte. As estações de trem de Monet, as paisagens de Sisley, Pizarro, Van Gogh, Gauguin são meros esboços, estudos de luz e sombras, sem comparação com a paisagem criada pelas queimadas.

Mas, ao contrário das obras de arte, que se valoriza até patamares inacreditáveis e dão riqueza e requinte aos seus possuidores, as queimadas trazem danos, alguns incalculáveis, para a natureza e para os produtores rurais atingidos pelas chamas.

Perdem todos. O fazendeiro, o sitiante, o agricultor familiar. Perde a natureza, que vê, em poucas horas, matas centenárias e campos com vegetação rara serem destruídos sem perdão pelas chamas vorazes que levam na sua expansão fora de controle vegetação e fauna, muitas vezes ameaçadas de desaparecimento.
Muitas vezes, a origem das queimadas é um acidente natural. Uma faísca num cristal, um raio, o próprio calor são suficientes para desencadear incêndios gigantescos, que, em áreas ermas, sem interferência humana, sem uso econômico ou de preservação, têm justamente nestas queimadas a renovação necessária para continuarem existindo, se renovando de tempos em tempos.

Acontece que nem sempre a natureza está na origem do fenômeno. Quantas bitucas de cigarro causam prejuízos incalculáveis para milhares de pessoas, que dependem das enormes áreas devoradas pelo fogo ateado em um matinho na beira de uma estrada por um motorista desavisado?

Quantas queimadas para limpar um pasto se transformam em incêndios fora de controle, que arrasam a região por onde passam? Quantas queimadas para abrir uma roça devoram quilômetros de mata virgem, matando a fauna que habita nela?
O que dizer das centenas de balões que caem completamente desgovernados, com as mechas acesas, em áreas plantadas com soja, milho, feijão, café, pastagens e outras culturas?

Não é mais possível tolerar o descaso com que certas pessoas encaram a vida e a felicidade do próximo. Não é mais aceitável que uma brincadeira estúpida como soltar balões leve famílias inteiras a perderem o que construíram com trabalho árduo, por vezes de várias gerações.

Para quem acha que a brincadeira não tem consequências, apesar dos danos potenciais que os balões representam, o espaço aéreo brasileiro é considerado tão arriscado quanto o de países em guerra ou guerra civil, encarecendo os seguros das aeronaves que voam sobre nosso território, por conta dos balões que, nesta época do ano, se transformam num risco concreto para a aviação.

Queimadas e incêndios significam prejuízos invariavelmente de monta e capazes de quebrar uma empresa ou levar à falência um produtor rural. Isso é crime que não pode ser amenizado com o argumento de que não tem problema, o seguro paga.

É importante não esquecer que a maioria dos produtores rurais brasileiros não tem qualquer tipo de proteção de seguro. Além deles, grande parte das empresas nacionais também não contrata adequadamente seus seguros. Parte das apólices que dão cobertura para o risco de incêndio exclui das coberturas as queimadas em zona rural e sua propagação para áreas urbanas.

Finalmente, as áreas de parques ou com vegetação natural, com raríssimas exceções, não são seguradas, nem no país, nem na maioria dos países do mundo.
Entre secos e molhados, os incêndios que se propagam nesta época do ano e que, em 2018, já atingiram a casa das dezenas de milhares de focos, mais do que criminosos, são a certeza de prejuízos de todos os tipos e tamanhos. Perde a natureza, perde o país, perde a sociedade, perdem as pessoas. Não é possível que esta conta continue a crescer. Pense nisso e faça sua parte.

Publicado no jornal Estadão em 23/07/2018.



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