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Acadêmico: Roberto Duailibi "As aglomerações por sí só, requerem muita atenção por quem organiza e das autoridades. Quando se junta isso ao tom de balada, pancadão ou coisa que o valha se cria a fórmula capaz de produzir efeitos adversos aos esperados sobre uma marca ou produto. O barulho enlouquece as pessoas, as torna irascíveis, muitas vezes incapazes até de medir suas atitudes."
Está todo mundo procurando as motivações de Stephen Paddock para o massacre de Las Vegas na semana passada. Eu tenho uma explicação mais simples e talvez mais verdadeira: ele enlouqueceu com o barulho do show de música country que se realizava sob a janela de seu quarto de hotel. E isso nos toca diretamente, nós que, às vezes, temos de sugerir eventos musicais ao ar livre para nossos clientes. Eu, pessoalmente, já tive vontade de ter um fuzil e atirar nos alto-falantes colocados em frente ao meu apartamento no posto 10 de Ipanema. Já quis atirar um paralelepípedo nos eventos que uma empresa de promoções realizava na Rua Gumercindo Saraiva e incomodava toda a vizinhança. Não era só eu. Os vizinhos se uniam e ligavam para a Polícia Militar e o Psiu para reclamar. Inutilmente, dando-nos a sensação de impotência à agressividade do ruído insuportável. Pergunte aos moradores da Vila Madalena se gostam do burburinho dos bares; ou aos vizinhos da Praça do Povo, que se uniram contra a intenção do Jockey de permitir shows em seu espaço; ou aos moradores do conjunto habitacional perto do Real Parque se gostam de pancadões patrocinados por traficantes. O baticum da percussão atravessa paredes e interfere na ritma do cérebro e coração. Não é por outro motivo que existem regras claras contra o ruído nos grandes centros. A prefeitura de Las Vegas, certamente, não deve ter levado isso em consideração quando autorizou um show de country music ao ar livre, em espaço rodeado por grandes hotéis. Os quartos, por mais protegidos, foram invadidos pelas guitarras e ruídos do público. As empresas e marcas que se envolvem nesse tipo de promoção deveriam pensar muito a esse respeito. Levadas por empresas de eventos, acabam aprovando verbas mirabolantes e produções transcendentais de música ao ar livre ou em locais impróprios. Ninguém pensa na vizinhança. Muitas vezes, tenho certeza, o diretor de marketing é levado à aprovação por falsos argumentos de impactos sonoros amenizados por supostas medidas tecnológicas novas. Nos grandes centros urbanos, esse tipo de problema afeta as pessoas, causa irritação, eleva o estresse, justamente no momento em que todos se preparam para o momento mais sagrado do dia: o sono. Quem consegue descansar, ter uma noite tranquila, com potentes alto-falantes, gritando aos ouvidos? Sem contar o próprio barulho das festas, shows ou eventos. O que acho é que esse tipo de ação de comunicação é, para mim, e para todos com eu converso e convivo, um tiro pela culatra. A empresa imagina estar promovendo de forma positiva sua marca ou produto, mas se engana. Gasta muito para criar problemas desnecessários. Na maioria das vezes, atrai de forma espontânea a raiva velada da vizinhança, noutros momentos se vê envolvida em crises de imagem graças a incidentes mais sérios ou denúncias formais e na mídia. Esses ruídos, que perturbam a paz pública, são indesejáveis para crianças, idosos, trabalhadores, pessoas em tratamento médico. Deveria haver uma legislação mais rigorosa a respeito. Quer fazer promoção a partir desse preâmbulo, de produzir sons acima do suportável pelo ouvido humano? Há uma coerente estratégia de comunicação? Há público para isso? Então faça dentro de condições específicas e locais apropriados. O Rock in Rio, nesse sentido, é um bom exemplo. Assim como o Sambódromo em São Paulo, a Marquês de Sapucai no Rio, etc. As aglomerações por sí só, requerem muita atenção por quem organiza e das autoridades. Quando se junta isso ao tom de balada, pancadão ou coisa que o valha se cria a fórmula capaz de produzir efeitos adversos aos esperados sobre uma marca ou produto. O barulho enlouquece as pessoas, as torna irascíveis, muitas vezes incapazes até de medir suas atitudes. Por isso o mundo é tão carrancudo. O som alto das ruas, dos carros, dos grandes centros, já produz muitos loucos. Não precisamos de mais estímulos nesse sentido, principalmente se esses loucos estiverem armados. Fica, por fim, meu lamento às vítimas de Las Vegas e suas famílias. Roberto Duailibi é publicitário e membro da Academia Paulista de Letras (publicado no jornal PROPMARK de 8 de outubro de 2017). voltar |
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