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Acadêmico: Júlio Medaglia "Durante toda sua vida Moya espraiou seus conhecimentos das mais diversas maneiras, inclusive como professor da USP por décadas."
Há alguns meses, após o lançamento de um livro aqui em São Paulo, eu jantava num restaurante com um grupo de intelectuais, artistas e jornalistas. Lá pelas tantas, Ziraldo, um dos presentes, se dirigiu a todos e disse: “vejo muita gente importante ao redor desta mesa. Não arriscaria dizer quantos ou quais de vocês terão seus nomes marcados na história. Um nome, porém, eu tenho certeza que sim: Álvaro Moya”. Em seguida Ziraldo justificava sua afirmação lembrando o fato de Moya ter realizado em 1951 no Museu de Arte de São Paulo a primeira exposição de histórias em quadrinhos do mundo. Arcando com as consequências dessa polêmica ousadia, a da exposição de um objeto de cultura de massa gráfica num espaço tão nobre, cultura essa tida por muitos como um mero entretenimento de leitura em banheiros e logo descartável, Moya assumiu praticamente a liderança internacional na defesa dessa arte popular. Publicando mais de 10 livros sobre a matéria Shazan, talvez o mais importante - e frequentando constantemente exposições, simpósios internacionais, congressos sobretudo os de Lucca, na Itália, uma espécie de capital mundial dos “fumetti” , ele e seus escritos se tornaram referencias sobre o assunto mundialmente . Manteve também um estreito relacionamento com editoras e desenhistas famosos dos mais populares “comics” sobretudo os norte-americanos que se apoiavam em suas teses para conferir uma espécie de status cultural a essas revistinhas cr iadas por eles e adquiridas por poucos centavos em bancas de jornais das ruas do planeta. Moya esteve bom tempo nos Estados Unidos estudando culturas de massa sobretudo cinema e televisão razão pela qual ele foi encarregado de estabelecer o perfil de programação na fundação da TV Excélsior de São Paulo em 1960. Aí ocorre o grande salto qualitativo de nossa TV. Enquanto na Europa a implantação do novo veículo deitava raízes em formas de expressão culturais tradicionais literatura, teatro, concerto, cabaré etc e a TV norte-americana ia buscar suas ferramentas principais num outro veículo de massa e igualmente áudio-visual, o cinema, no Brasil nossa TV foi moldada com os elementos de um veículo mais recente, igualmente el etrônico e quase psicodélico, o rádio brasileiro do passado. Toda aquela vibração positiva que esses radialistas passaram para a TV brasileira dos primeiros 10 anos, foi encampada pela linguagem da TV Excelsior. Só que à ela foi acrescentada um componente divisor de águas: a participação em sua programação e linguagem de grandes nomes de nossa cultura superior. De uma hora para outra, saiam de seus pedestais e se misturavam com uma excitante cultura de massa figuras como os dramaturgos Jorge Andrade, Gianfrancesco Guarnieri, Altair Lima; talentos novos e super-dotados como Manoel Carlos, Jô Soares, Roberto Palmari, o cenógrafo Rodrigo Cid e o publicitário José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, conhecido como Boni, que iria baseado naquelas experiências industrializar um modelo de TV moderna na TV Globo do Rio de Janeiro, o qual se tor nou padrão internacional. Hoje a emissora carioca exporta seus produtos para mais de 150 países. Nas novelas da TV Excélsior era possível assistir pela primeira vez a realidade brasileira, distantes daqueles dramalhões cubano-mexicanos da TV anterior. Na programação de cinema, selecionada a dedos pelo próprio Moya e devidamente por ele comentada, se assistiam os melhores filmes. Na linha de shows, em programas como o Brasil 60, apresentado por Bibi Ferreira, via-se, por exemplo, João Gilberto fazendo duetos com Orlando Silva, Ionesco dialogando com Pagano Sobinho, importante e muito popular cômico da época, Jean Paul Sartre sendo entrevistado e coisas assim, hoje inimagináveis em TVs abertas. Eu mesmo tive oportunidade de lançar em primeira mão, depois de 200 anos de silêncio dessas part ituras, obras corais sinfônicas do Barroco Mineiro, composições sacras de Vivaldis mulatos . Durante toda sua vida Moya espraiou seus conhecimentos das mais diversas maneiras, inclusive como professor da USP por décadas. Não tenho dúvidas que Ziraldo tinha razão quando fez aquela afirmação. Alias, este artigo já é uma contribuição para que seu nome fique, de fato, eternamente marcado em nosso patrimônio cultural. Júlio Medaglia voltar |
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