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Acadêmico: José Pastore "Impopularidade é um fenômeno surpreendente. A história tem muitos exemplos de governos impopulares que deixaram uma herança de grandes realizações"
José Pastore Julio Medaglia As pesquisas de opinião pública têm dado ao presidente Michel Temer os mais baixos níveis de popularidade. Esses podem cair ainda mais, pois vêm pela frente as difíceis reformas previdenciária e trabalhista. Haja resistência. Nisso tudo há algo intrigante. Ao lado da referida impopularidade, verifica-se que, em pouco tempo, Michel Temer montou uma equipe econômica de reconhecida competência, viu o Congresso Nacional aprovar a nova regra para controle dos gastos públicos, o fim do monopólio da Petrobras no pré-sal, normas modernas para o setor energético e de saneamento e as diretrizes para a terceirização ampla. Em menos de um ano, controlou a inflação, profissionalizou a gestão das empresas estatais e agências reguladoras, definiu regras de lucratividade para os investimentos privados na infra-estrutura e enviou ao Congresso Nacional as duas reformas acima referidas - ambas cruciais para o crescimento do Brasil. É uma invejável folha de ações concretas. E, apesar disso, o “Fora Temer” está em todo o país. Impopularidade é um fenômeno surpreendente. A história tem muitos exemplos de governos impopulares que deixaram uma herança de grandes realizações. Nos Estados Unidos, Abraham Lincoln foi impopular quando abraçou a causa da libertação dos escravos. Na Inglaterra, Winston Churchil foi questionado pela imprudência de seus atos na Segunda Guerra. Na Alemanha, Gerhard Schröder foi criticado por ter revolucionado a legislação trabalhista. No entanto, os três foram reconhecidos pela histó- ria como tendo prestado os mais relevantes serviços aos seus países. No campo da música, os casos de impopularidade são eloqüentes. Em 1824, ao apresentar o final da sua 9ª Sinfonia, Beethoven acrescentou uma grande massa coral no último movimento, impostando as vozes nos registros mais agudos, como se fossem um grito pela paz, baseado em um poema de Schiller. Recebeu a mais negativa reação da platéia vienense e os críticos disseram que, além de surdo, o gênio teria ficado louco. Na primeira audição da Sagração da Primavera, em 1913, os parisienses, enfurecidos, atiraram centenas de objetos no palco aos gritos de fora Stravinsky a ponto de fazer o compositor, os músicos e os bailarinos fugirem por uma porta lateral do teatro para evitar um grave linchamento. Villa-Lobos, nos anos 1920 do século passado, teve a sua música condenada ao lixo pelos críticos que não aceitavam motivos e instrumentos da cultura popular brasileira como berimbaus, pandeiros, cuícas etc., tocados ao lado dos sofisticados violinos Stradivarius das orquestras sinfônicas. No fim dos anos de 1950, João Gilberto interpretando o desconhecido Antonio Carlos Jobim, cantava baixinho, com harmonias compactas e ritmos estranhos a ponto de ele e o Autor das novas peças (estava nascendo a bossa nova) causar grande estranheza ao público. Os dois foram obrigados a fugir do Rio de Janeiro para São Paulo, onde cada um conseguiu um programa de tevê para expor a nova música e garantir o seu sustento. Hoje, o coral da 9ª Sinfonia de Beethoven é mundialmente aplaudido, tendo se tornado o hino da União Européia. A Sagração da Primavera de Stravinsky é considerada o grande monumento musical do século 20. E, Villa-Lobos e a bossa nova são os maiores arrecadadores de direitos autorais do Brasil no exterior. Para conhecer melhor as lutas, trombadas, desafios e rejeições dos que revolucionaram a música do século 20, sugerimos o livro de Júlio Medaglia, Música impopular, Editora Global, 2009. É isso mesmo. A história é marcada por obras de estadistas e artistas que só foram reconhecidos bem depois do seu tempo. É claro que todo governante sonha em desfrutar de popularidade ao longo de seu mandato. Mas, quando isso é impossível, fica para a história o eventual reconhecimento definitivo. No caso das reformas conduzidas por Temer, quem viver verá. voltar |
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