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Acadêmico: Júlio Medaglia Incentivos fiscais para produtores independentes são fundamentais para fazer deslanchar nossos talentos musicais
Apesar dos vultosos investimentos do poder público na área da educação, o Brasil amarga um dos últimos lugares nas estatísticas mundiais do setor. A consequência desse trágico estado de coisas é o não encaminhamento profissional de muitos brasileiros, o que redunda no aumento da marginalidade criminal e na escolha por parte da população de maus políticos. O país, apesar de seu enorme potencial energético e humano, anda para trás. É claro que, nesse status quo, o tratamento dado pelo poder público à área cultural não iria merecer consideração especial, mesmo porque, para nossos governantes, cultura não vai além de mera e dispensável perfumaria. Mas, se a educação no Brasil vai de mal a pior, parece que no setor musical erudito as perspectivas são animadoras. Temos visto nascer dezenas de novas orquestras jovens, que têm demonstrado um nível técnico e artístico muito bom e que muitas vezes são oriundas de locais os mais improváveis. Quem poderia imaginar que num dos pontos mais disputados pelo tráfico de drogas de São Paulo, a favela de Heliópolis, surgiria uma sofisticada orquestra que teria a audácia de tocar Beethoven em Bonn, cidade natal do grande gênio universal da música? Seguindo essa mesma qualidade, podemos lembrar de orquestras como a de Barra Mansa e a de Campos do Goitacazes (cidade até então lembrada apenas por maus políticos e por sua produção de petróleo), do projeto Neojiba, na Bahia, do da Bachiana Sesi, além das orquestras jovens paulistas que tem exibido repertório ousado com muito brilho. Na minha crônica anterior desta Revista CONCERTO, lembrei os 10 anos do programa Prelúdio, que faço na TV Cultura de São Paulo. Ali, anualmente, se apresentam em média 150 jovens para tocar superconcertos com orquestra, revelando um preparo excepcional, dignos de arrebatarem a bolsa que lhes é oferecida de 3 anos na Academia Franz Liszt de Budapeste. Dada a inexistência do chamado “valor de mercado” do ensino e da auto sustentação profissional da música erudita, os incentivos fiscais com os quais contamos no Brasil são essenciais, a fim de que se desenvolvam projetos particulares, fora das emperradas máquinas públicas. Apesar de ínfimos apenas 0,46 % dos incentivos fiscais oferecidos em geral pelo governo , o que temos notado é que está se formando um processo de demonização da chamada Lei Rouanet e isso dentro do próprio Ministério da Cultura. Aproveitando-se de fatos isolados, nos quais o incentivo fiscal foi usado indevidamente, criam-se acusações e em seguida armadilhas para que essas renúncias fiscais venham a sair das mãos dos produtores independentes e sejam transferidas e controladas por mecanismos do próprio Minc. E para tal já existe um projeto montado, com o nome de Pró Cultura. Como conhecemos sobejamente as equipes daquele Ministério montadas por elementos do governo que comandou o país por 13 anos e acaba de ser substituído , a ideia é a de manipular essas verbas para projetos populistas, no mais das vezes repletos de “ideologização”, como ocorreu na área da educação, onde os novos currículos incluíam ideias e objetivos estapafúrdios. Uma delas era a de, nos currículos novos, menosprezar nossas relações com o universo cultural greco-romano e incentivar pesquisas e nossos vínculos com a África. Ou seja, seríamos menos Aristóteles, Platão, Michelangelo, Da Vinci, Shakespeare, Bach, Beethoven, Heidegger ou Einstein, e seríamos mais Somália, Angola ou Simbabwe... Para nossa sorte foi nomeado agora para o Ministério da Cultura um político da melhor qualidade e dignidade, Roberto Freire, e, se ele tiver tempo e conseguir exercer sua influência sobre aquele “máquina” repleta de vícios, podemos esperar bons resultados. Talento musical e bons formadores de profissionais não nos faltam, como temos visto pelos desempenhos de nossas orquestras jovens. O Brasil, que a cada dia, ao abrimos os jornais, tem nos oferecido uma surpresa macabra, quem sabe poderá nos surpreender positivamente com projetos que façam deslanchar nossos talentos culturais. Não tenho dúvidas de que eles provarão, em um futuro bem próximo, um excelente “valor de mercado espiritual”. Por: Júlio Medaglia (fonte: Revista Concerto) | Data: Janeiro/2017. voltar |
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