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Acadêmico: Antonio Penteado Mendonça "Os riscos, por menores que sejam, existem e são justamente os que nós não consideramos que costumam causar as grandes tragédias."
O trágico acidente que matou a delegação do Chapecoense, jornalistas e tripulantes um pouco antes do avião pousar em Medellín, na Colômbia, pode ser lido das mais diversas maneiras, a começar pela lição de que acidentes acontecem e podem custar caro, em vidas e patrimônios, até mesmo quando pensamos que tomamos todas as medidas possíveis para impedir a sua ocorrência. No caso, se ficar comprovada a falta de combustível como causa da queda, não é de se imaginar que o piloto, um dos sócios da companhia proprietária da aeronave, tido como um profissional competente, fanático pela aviação, teria imaginado que estava correndo um risco desnecessário ao não fazer uma escala para abastecer o avião, apesar de, em função da distância e da autonomia da aeronave, restar pouco combustível no caso de uma emergência. O que o levou a concluir que dava é a pergunta que não tem resposta. De qualquer forma, é evidente que ele não imaginou que estava colocando a própria vida e a das demais pessoas a bordo em risco. De outro lado, também não é normal uma condição como a que ele encontrou quando se aproximava do aeroporto, com mais três aeronaves em procedimento para pouso, sendo que uma delas com um vazamento de combustível que fez com que o controle aéreo priorizasse sua aterrisagem, em detrimento dos demais, incluído o voo que levava os brasileiros para Medellín, que não teria combustível para mais do que 15 minutos de voo. A queda do avião, nestas circunstâncias, confirma o princípio básico da Lei de Murphy: “se alguma coisa pode dar errado, dará”. Ou, em outras palavras, os riscos, por menores que sejam, existem e são justamente os que nós não consideramos que costumam causar as grandes tragédias. É só olhar a história da navegação e a viagem inaugural do Titanic, o navio insubmergível, que foi a pique na primeira vez que se fez ao mar. Aliás, a razão de ser do seguro é exatamente a certeza da existência do risco, do imponderável, do imprevisto e do fora de controle. A certeza da falha humana e do inesperado de causa natural. A certeza da possibilidade da soma de fatores que, em conjunto, são capazes de, por exemplo, causar a queda de um avião, como se viu na Colômbia. Ou da chuva e do vento que, em conjunto, destroem centenas de casas e deixam desabrigadas milhares de pessoas. Isso traz à baila uma questão da maior importância, não apenas em termos sociais, mas em termos empresariais, atingindo, no caso de um acidente aéreo como este, pessoas, interesses econômicos e até mesmo o futuro de um time de futebol. Qual o total das perdas? Vidas humanas e o futuro das pessoas não têm preço, mas existem fórmulas para quantificar indenizações. No caso, o sucesso crescente do Chapecoense e a exposição de seus jogadores aponta indenizações bastante elevadas. Indenizações pelas mortes, pela perda de remuneração dos profissionais e do time e pela ameaça que pesa sobre o futuro do Chapecoense, dizimado quando em franca ascensão. É cedo para se falar nos seguros da aeronave, mas não é cedo para se afirmar que as seguradoras já têm uma grande responsabilidade pelos seguros de vida e acidentes pessoais das vítimas da tragédia. O que leva a desdobramentos como qual seria o valor do total das indenizações no caso de um acidente aéreo matar um time de primeiro nível do futebol mundial. Mas, se não há como se fugir do lado pragmático da vida, há um viés que precisa ser comemorado. A comoção causada pela morte dos jogadores do Chapecoense mostrou que o ser humano ainda tem a capacidade de se sensibilizar diante da tragédia. Mas foi a reação do povo colombiano que mostrou que a solidariedade e a compaixão são sentimentos muito profundos. O que a Colômbia mostrou ao mundo, quando a população de Medellín lotou o estádio da cidade para, na hora em que o jogo deveria acontecer, homenagear os mortos, transcende as barbaridades que acontecem em outras partes do planeta e mostra que, apesar de todos os pesares, o direito à dignidade é um valor intrínseco e inseparável do ser humano. Por: Antonio Penteado Mendonça | (fonte:"Estado de S. Paulo”) | Data: 05/12/2016 voltar |
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