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2018 A.D
Acadêmico: José de Souza Martins
Como vota o brasileiro? José de Souza Martins faz uma análise do teatro eleitoral por vir.



Entre prisões e bravatas, entre muitas incertezas quanto ao presente e poucas certezas quanto ao futuro, o país, anestesiado pelo cansaço, mais se arrasta do que caminha rumo à incógnita da eleição presidencial do Ano do Senhor de 2018. Não falo de pessoas. Os tradicionais entes invisíveis do processo político brasileiro vão dando sinais do protagonismo que terão na mentalidade que presidirá nossos rumos no dia da eleição. A manipulação publicitária e anticidadã do voto e o messianismo antidemocrático já estão na coxia do teatro eleitoral.
Mesmo que uma parte não decisiva da sociedade brasileira acredite que o processo eleitoral é racional e que a política pode ser compreendida e decidida de modo objetivo, aqui a política é regulada por irracionalidade e misticismo. Não pode ser interpretada se não se leva em conta o milenarismo e o messianismo crônicos que a regulam, dependendo de crises e incertezas. Mas o oposto também pode ocorrer. Lula messiânico foi eleito em sucessão ao Professor Fernando Henrique Cardoso e ao ciclo de democracia e estabilidade que ele protagonizou. Não só o desespero chama o messias para rever rumos. A esperança mística também o faz.
Nesta eleição o povo será a grande incógnita, mais uma vez. Os alquimistas do poder não o compreendem e não sabem lidar com ele. Na última eleição municipal de São Paulo, um desconhecido foi eleito e acreditou que, por isso, estava dotado de virtudes que ele próprio não via. Não percebeu que, já há alguns anos, o voto do brasileiro é um voto apenas contra, em vários lugares do país. Os eleitos são resíduos dessa vontade política pelo avesso. O eleitor, quando se manifesta por um candidato pode estar, e nestes casos recentes tem estado, contra o derrotado sem estar a favor do eleito. Esse é um dos mistérios do voto num país sem alternativa, em que o personalismo do poder é inimigo da razão e da democracia.
O medo e a insegurança despertam os fantasmas que governam o Brasil desde o período colonial. Os próprios supostos candidatos são, e não o sabem, personificações de entes imaginários que tem entre nós persistente presença e enorme capacidade de mobilização da opinião popular contra tudo o que é próprio da política e do processo democrático. Somos um país dividido entre a embriaguês do Carnaval e o pavor do fim dos tempos.
O Brasil está, neste momento, politicamente, dominado pela lógica do avesso. Essa mentalidade pré-política presidirá as eleições. Ninguém sabe o que sairá das urnas. Os eleitos passarão quatro anos tentando decifrar a incógnita de uma eleição que lhes deu funções de poder, mas não os elegeu. O novo presidente chegará ao mando sem legitimidade. Governará para poucos. Estamos vendo isso agora. O sujeito social do poder não será propriamente o eleitor. Descobriremos quem é quando o governo terminar.
A crise política que estamos atravessando mostra fatos de relevo para a compreensão do que nos espera em 2018. A descoberta dos ilícitos que envolvem o processo político vem se dando por etapas pelos personagens. O sistema corrompido e corruptor se revela aos poucos. Desde o mensalão as desculpas de uma etapa são desmentidas pela seguinte. Cada um dos descobertos em transgressão defendeu-se em cada momento com um pretexto. Embora vá repetir na etapa seguinte variantes dos mesmos desvios da etapa anterior. No final, invocará novos pretextos. Como os fatos estão interligados e nem tudo ganha visibilidade senão aos poucos, bastou um incidente, como dinheiro na cueca, uma indiscrição, uma mala cheia de dinheiro, uma delação para que o que foi insuficientemente esclarecido, o dito insuficiente, peça novos ditos insuficientes. No geral, os culpados se defendem acusando. Primeiro, denunciaram os adversários. Depois começaram a acusar as próprias autoridades. Agora começam a acusar os amigos. Sempre é o outro o responsável pela adversa situação de cada um.
Em tudo, ficou claro nestes 14 anos de adversidades e incertezas quanto ao poder, aos governos e aos partidos políticos que nas eleições de cada etapa do processo político recente fomos descaradamente enganados, as eleições decididas entre candidatos fabricados na prancheta de publicitários, sem qualquer distinção significativa entre propaganda de gente e propaganda de sabonete. O desafio de 2018 é o de saber quais as fantasias publicitárias que já estão em processo para nos iludir no ano que vem. Até aqui soubemos das enganações depois, em consequência de inquéritos e interrogatórios. Ouvir uma publicitária dar detalhes de como ela e o marido dirigiram a República e foram em socorro da governante sempre que solicitados deixa bem claro que o voto e o eleitor foram minimizados, raptados.



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